Líder de comitiva aos EUA evita responder ataques de Eduardo Bolsonaro
Presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, Nelsinho Trad, disse que o governo brasileiro precisa melhorar diálogo com os EUA
O senador Nelsinho Trad (PSD-MS), presidente da Comissão de Relações Exteriores, evitou responder às críticas feitas pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) contra a tentativa do Senado de participar de uma mediação para evitar o tarifaço anunciado pelo presidente americano Donald Trump.
Trad vai liderar uma comitiva de senadores que irá aos Estados Unidos nesta sexta-feira para tentar dialogar sobre o assunto.
O grupo terá a participação de ex-ministros de Jair Bolsonaro e de senadores petistas, incluindo o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA). Eduardo Bolsonaro fez uma publicação nas redes sociais em que disse que é a favor dos senadores desistirem de irem aos EUA e que a viagem deles está “fadada ao fracasso”.
Em resposta, Trad reconheceu ao Globi que há um problema político envolvendo a questão, mas evitou responder às críticas de Eduardo no mesmo tom adotado pelo deputado.
— Não adianta a gente querer embaralhar mais do que já está embaralhado. Vamos resolver as questões por etapas, vamos lá abrir esse canal de diálogo. Se a gente conseguir isso, como creio que nós vamos conseguir, já vamos estar com a missão praticamente justificada.
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Eduardo está nos Estados Unidos desde março e tem se mostrado contra qualquer tipo de negociação institucional envolvendo o assunto das sobretaxas de 50% anunciadas por Trump sobre o comércio brasileiro, previstas para começarem em agosto.
O deputado tem dito que a única solução é aprovar uma anistia “ampla, geral e irrestrita” a membros da oposição acusados de participar de atos golpistas, o que poderia beneficiar o seu pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro. O cerco judicial contra o ex-presidente brasileiro chegou a ser citado por Trump quando ele anunciou as sanções ao comércio do Brasil.
Trad, que apoiou Bolsonaro nas duas últimas eleições presidenciais, mas não é da ala mais radical da oposição, procurou se desvencilhar do assunto e disse que as questões políticas citadas por Trump terão que ser debatidas em outro momento.
— Já é uma situação tão complexa que para tentar resolver não adianta querer tornar mais complexa ainda. Vamos resolver devagar, ponto por ponto. A relação entre nós e os Estados Unidos esfriou, isso foi uma coisa que aconteceu e tem que ter uma mea-culpa de todo mundo, tanto dos parlamentares, quanto do próprio governo, porque nós tínhamos uma relação muito melhor com os Estados Unidos do que a gente tem agora – declarou.
Para ele, é necessário fazer que fazer essa questão voltar a ser como era antes e procurar subir degrau por degrau. Na hora que vier a questão política, a gente discute a questão política, não adianta querer resolver de uma vez só que não vai conseguir – completou.
O parlamentar também disse que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva precisa melhorar o diálogo com os Estados Unidos. Ele elogiou o petista, mas disse que ele precisa usar mais a habilidade política que ele tem.
— Eu penso que isso precisa ser melhorado. Até porque essa relação faz parte da arte da política e o presidente Lula sabe fazer política. Todos nós sabemos disso, é o mister dele, ganhou três vezes para presidente e não foi à toa. Então, vamos procurar cada um olhar um pouco para dentro da gente para saber onde é que a gente pode avançar, melhorar para tirar o Brasil dessa situação.
Para o senador, a comitiva trabalha com o “pior cenário possível", ou seja das tarifas serem realmente aplicadas a partir de agosto, mas que isso “não quer dizer que vai parar as negociações”.
Além de Trad, o grupo vai contar com a presença dos senadores Rogério Carvalho (PT-SE), Tereza Cristina (PP-MS), Marcos Pontes (PL-SP), Jaques Wagner (PT-BA), Carlos Viana (Podemos-MG), Esperidião Amin (PP-SC) e Fernando Farias (MDB-AL).
Estão previstas reuniões com empresários brasileiros e americanos, além de encontros com parlamentares dos partidos Democratas e Republicanos no Congresso dos Estados Unidos. Assim, não está previsto encontro com o governo.
— A gente vai para o Congresso americano, onde a gente vai tabelar com os parlamentares de lá no sentido de explicar o que está acontecendo com essa sobretarifa, mostrar para eles que isso vai ser ruim para os Estados Unidos também. Estamos levando um detalhamento técnico para poder provar para eles que essa é uma atitude de perde-perde e que isso não vai levar a um bom termo no futuro de médio e longo prazo.
Na última quarta-feira, os senadores da comitiva se reuniram com o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, que os atualizou da atuação da representação diplomática brasileira em relação ao tema.

