Lula deve anunciar Boulos em ministério nos próximos dias
Deputado vem indicando a aliados que poderá abrir mão de disputar a eleição para entrar no governo
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve anunciar nos próximos dias o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP) como ministro da Secretaria-Geral da Presidência, segundo auxiliares do petista. Após viagens de Lula à China e ao Uruguai, integrantes do Palácio do Planalto consideram como certa a troca do atual ocupante do cargo, Márcio Macêdo.
Lula chegará em Brasília na madrugada de quinta-feira e no mesmo dia irá a Montevidéu para o enterro do ex-presidente do Uruguai, Pepe Mujica. Com isso, a viagem de Lula para o Espirito Santo na sexta-feira foi suspensa e o presidente ficará Brasília.
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A expectativa é que Lula chame Boulos para uma conversa definitiva antes do anúncio.
Lula quer ter no comando da Secretaria-Geral, pasta que faz interlocução com movimentos sociais e a sociedade civil, um nome que tenha canal direto com essas entidades e capacidade de mobilização. A estratégia de intensificar a relação com os movimentos sociais está ligada a disputa eleitoral do ano que vem. Boulos iniciou sua atuação política como líder do Movimentos dos Trabalhadores Sem Teto (MTST).
Lula e Boulos tem uma relação pessoal e próxima. Nas eleições municipais de 2024, Boulos foi o único candidato para o qual Lula realmente se empenhou na campanha. Além de ter costurado a vice da chapa, Marta Suplicy, foi o fiador do repasse de fundo eleitoral do PT para a campanha do deputado e gravou propaganda eleitoral na sua casa, em São Paulo.
Em meados de abril, Lula sondou Boulos sobre a possibilidade de ele assumir o cargo com assento no Planalto. Lula quis saber se Boulos aceitaria abrir mão de disputar a eleição do ano que vem, para, caso seja nomeado, poder ficar no cargo até o fim do mandato do petista. O deputado vem indicando a aliados que poderá abrir mão de disputar a eleição para entrar no governo.
A ida de Boulos para a gestão petista com essa condição encontra forte resistência dentro do PSOL. Boulos foi o deputado federal mais votado de São Paulo em 2022, com apoio de 1.001.453 eleitores, e o principal puxador de votos da legenda. Com isso, sua eventual saída da disputa eleitoral no ano que vem pode prejudicar o PSOL, que lutará para superar a cláusula de barreira.
Se confirmada, a troca de Márcio Macêdo por Guilherme Boulos dará mais um passo na reforma ministerial que Lula vem fazendo a conta gotas. Desde o início do ano, o presidente vem promovendo trocas concentradas em seus aliados mais próximos.
Em janeiro, o deputado Paulo Pimenta (PT-RS) saiu do Ministério da Secretaria de Comunicação Social e deu lugar ao marqueteiro Sidônio Palmeira. Em março, Alexandre Padilha deixou a pasta de Relações Institucionais para Gleisi Hoffmann assumir o posto. Por sua vez, Padilha foi nomeado como ministro da Saúde no lugar de Nísia Trindade.
Macêdo está na berlinda no cargo desde maio do ano passado, quando Lula deu bronca pública no ministro durante o ato do Dia do Trabalhador, em São Paulo. A reclamação ocorreu devido a baixa adesão de público. Petistas avaliam que Macêdo tem uma atuação apagada em uma pasta que sempre teve protagonismo em governo petistas, com capacidade de articulação e de formular políticas. O entorno presidencial também aponta que Macêdo acabou "esquecido" por Lula enquanto o presidente desenha as troas do seu primeiro escalão, com poucas agendas com o petista e ainda menos protagonismo em sua pasta.
Agora, aliados de Lula veem a troca como importante para que Boulos possa mobilizar a base de apoio petista já com foco na campanha de 2026. Nos primeiros dois mandatos de Lula, a cadeira foi ocupada por Luiz Dulci, aliado histórico do petista e um dos fundadores do PT.

