Lula mantém Lupi diante do risco de desgaste político com PDT e com defesa de presunção de inocência
Presidente decidiu, porém, que irá escolher o novo chefe do INSS para substituir Alessandro Stefanutto
A insistência da cúpula do governo em defender a permanência do ministro da Previdência, Carlos Lupi, no cargo mesmo após o desgaste provocado pelas investigações sobre fraudes contra aposentados tem como pano de fundo o receio de provocar ruído político com um dos partidos da base, o PDT.
Publicamente, porém, auxiliares do presidente Luiz Inácio Lula da Silva descartam essa preocupação e frisam que não há nada nas investigações até o momento que aponte o envolvimento do titular da pasta com irregularidades.
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Um outro argumento lembrado no Palácio do Planalto é que Lula, por tudo que passou durante a Operação Lava-Jato, preza pela presunção da inocência. Essa sua postura foi vista, destacam, no caso do ex-ministro das Comunicações, Juscelino Filho, que só deixou o cargo quando foi formalmente denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR), dois anos após surgirem as primeiras notícias sobre suposto envolvimento em desvio de emendas parlamentares — o que ele nega.
Aliados de Lula reconhecem que a cronologia dos fatos aponta para omissão de Lupi, que também é presidente licenciado do PDT, à frente da Previdência, diante dos avisos recebidos pela pasta de que havia uma elevação substancial dos valores descontados dos contracheques de aposentados para serem repassados a associações.
Em uma atitude que pode ser lida como um sinal de desconfiança em relação a Lupi, Lula decidiu que ele próprio escolherá o novo chefe do INSS para substituir Alessandro Stefanutto, demitido por ordem do presidente no dia em que foi deflagrada a operação “Sem Desconto” pela Polícia Federal e pela Controladoria Geral da União (CGU).
O movimento de chamar para si a escolha do novo chefe do órgão responsável por pagar as aposentadorias e pensões foi lida no Palácio do Planalto como uma “intervenção” do presidente na autarquia.
Em entrevista à GloboNews nesta quarta-feira, a ministra da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, uma das auxiliares mais próximas de Lula, foi direta na defesa de Lupi, alinhada com o discurso que já vinha sendo propagado nos bastidores desde a semana passada.
— Não tem nada contra o Lupi no inquérito. O presidente é sempre muito cauteloso em relação à presunção de inocência. Então se não tem nada que o envolve, não tem motivo para ser afastado. Ele está se defendendo, e obviamente se tiver alguma coisa que no futuro venha a envolvê-lo, não só ele, como qualquer outro ministro, será afastado — disse.
Risco político
Nesta semana, o líder do PDT na Câmara, Mário Heringer (MG), disse que se Lupi for demitido, o partido sairá da base do governo.
A legenda possui 17 deputados e tem uma proximidade histórica com o PT.
O governo já enfrenta turbulência no Congresso desde o início deste mandato de Lula por causa da hegemonia dos partidos de centro-direita.
Mesmo siglas que possuem ministérios, acabam muitas vezes se dividindo em votações de interesse da gestão Lula.
O rompimento de um partido do campo da esquerda, mesmo com número pequeno de parlamentares, poderia dificultar o cenário no Legislativo.
À GloboNews, Gleisi negou que o governo mantenha Lupi no cargo por preocupações políticas.
Em 2011, quando era ministro do Trabalho de Dilma Rousseff, Lupi também enfrentou um processo de desgaste e acabou pedindo demissão.
Ele havia assumido o cargo ainda no segundo mandato de Lula, em 2007.
Depois da posse de Dilma, surgiram denúncias de que Lupi entre 2000 e 2005 havia acumulado dois cargos de assessor parlamentar em órgãos públicos distintos.
Também foi noticiado, na época, que o ministro havia autorizado o registro de sindicatos-fantasmas e que tinha viajado em um avião com um empresário que dirigia uma ONG beneficiada por convênios com o ministério.
Em dezembro de 2011, Lupi, que tinha perdido apoio no PDT, optou por sair do governo e se tornou o sétimo ministro a deixar o cargo em um movimento que ficou conhecido como “faxina de Dilma” e ajudou a desgastar a presidente em início de mandato com o mundo político.

