Nova ministra das Mulheres diz que não se pode "relativizar" falas machistas de Lula
Márcia Lopes ressalta que o presidente da República vem cobrando políticas públicas voltadas para o público feminino
Leia também
• Lula sonda Guilherme Boulos para assumir Secretaria-Geral
• Entenda o que levou à demissão de Cida Gonçalves
Escolhida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva como nova ministra das Mulheres, Márcia Lopes afirmou nesta terça-feira (6) que a sociedade não pode “relativizar” falas machistas do chefe do Executivo.
Questionada sobre episódios recentes, a também assistente social e professora disse ter "certeza" que Lula não está desatualizado sobre políticas públicas voltadas para o público feminino.
— Ao contrário: ele (Lula) tem cobrado muito isso — pontuou a ministra em entrevista à GloboNews. — Eu penso que a gente jamais pode relativizar essas falas e atitudes que contrariam a nossa luta e a nossa própria história da esquerda, de quem quer democracia e um país igual.
Em março, o presidente afirmou que escalou uma “mulher bonita” para chefiar a articulação política, em referência a ministra Gleisi Hoffmann, para “mudar” a relação com o Congresso.
Márcia substitui Cida Gonçalves na pasta. A demissão da agora ex-ministra ocorreu na segunda-feira após críticas ao seu desempenho e desgastes internos provocados por acusações de assédio moral e racismo.
Com a mudança no comando do Ministério das Mulheres, Lula dá mais um passo na reforma ministerial que vem promovendo a conta gotas. Ainda há possibilidade de o presidente mudar a Secretaria-Geral da Presidência, que hoje tem Márcio Macêdo como ministro.
A reforma também deve contemplar a bancada do PSD na Câmara. Os deputados do partido estão insatisfeitos com o Ministério da Pesca, hoje com André de Paula, e querem uma pasta maior.
Impacto no eleitorado feminino
Historicamente apoiadoras de Lula, as mulheres têm mostrado descontentamento com o governo e com a postura do petista, seja por falas machistas ditas de improviso em seus discursos ou relacionadas à alta dos preços dos alimentos.
Como mostrou reportagem do Globo publicada em março, a queda na avaliação positiva do governo nesse grupo ao longo do terceiro mandato do petista combina com a conclusão do levantamento da consultoria Gobuzz: as mulheres, que representam 52% do eleitorado, foram impactadas por declarações do presidente, como a que ele diz que é um amante da democracia, “porque, na maioria das vezes, os amantes são mais apaixonados pela amante do que pelas mulheres”. Ou quando, ao comentar sobre aumento dos casos de agressão doméstica em evento no Palácio do Planalto, disse que “depois de jogo de futebol, aumenta a violência contra a mulher. Inacreditável. Se o cara é corintiano, tudo bem”.
A Gobuzz levantou 80.809 comentários nas redes sociais da Meta e no X que mencionam Lula. Dentro dessa amostra, a consultoria selecionou as menções a frases ditas pelo presidente que mais repercutiram e que foram direcionadas a mulheres.
Para a cientista política da PUC-SP Juliana Fratini, que fez a análise acerca das frases polêmicas de Lula em parceria com a Gobuzz, a queda da aprovação entre mulheres está diretamente ligada às declarações.
— Ao ter essa postura, o presidente reflete a cultura machista que existe no país. Mas a expectativa em torno dele era diferente, então isso gera uma certa frustração — diz Fratini. — Como ele venceu com um discurso de frente ampla e com uma integração feminina muito forte na campanha, era esperado mais sensibilidade para esse segmento, que não é visto agora por elas.

