“Better Call Saul” honra legado de “Breaking Bad” e traz redenção de personagem
Derivado trouxe Walter White, Jesse Pinkman e outros rostos conhecidos para seu desfecho
Não é raro que uma série muito popular acabe se ramificando para um ou mais derivados. No entanto, os “spin-offs”, como são chamadas essas produções, nem sempre conseguem o mesmo sucesso que a original. É quase regra que elas sejam comparadas, acabam não atingindo a expectativa e sejam canceladas. Mas há exceções como “Better Call Saul”, que foi concebida como um prequel - acontece em uma linha de tempo anterior à série mãe, que neste caso é “Breaking Bad” - focado na vida do advogado malandro Saul Goodman (Bob Odenkirk). A sexta e última temporada já está disponível na Netflix.
Antes de conhecer um professor de química com câncer que faria de tudo “em nome da família”, Saul Goodman, na verdade, era Jimmy McGill. Ele vivia na sombra de seu irmão mais velho, o também advogado Chuck McGill (Michael McKean). Ao longo dos anos, vemos Jimmy nos primeiros estágios da malandragem até o momento em que se lança no mercado com o pseudônimo que vemos em "Breaking Bad".
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Além disso, conhecemos outros personagens: Kim Wexler (Rhea Seehorn) e sua trajetória como uma advogada justa, mas que acaba ficando no meio dos problemas do protagonista é interessante e prende a atenção. O egocêntrico advogado Howard Hamlin (Patrick Fabian) promete bons arcos e é um dos grandes obstáculos de Jimmy. Para o reconhecimento dos fãs, Mike (Jonathan Banks), Gus (Giancarlo Esposito), Nacho (Michael Mando) e Lalo (Tony Dalton) também estão no derivado, mas no embate de território no qual já sabemos quem vence - isso não tira a atratividade de entender como tudo começou.
Não é uma série comum
Se “Breaking Bad” é considerada um das grandes séries revolucionárias da indústria televisiva, “Better Call Saul” repete o feito com maestria. Passa longe de ser mais do mesmo, cria sua própria identidade, ainda que com alguma “vibe” da original. Os momentos de silêncio, tão marcantes na série de Walter White e que serviam de aviso para alguma cena-chave ou tensa, também são os momentos mais ricos do spin-off.
As duas produções falam sobre ambição e como ela se espalhou como uma doença nos diversos personagens do universo de Vince Gilligan e Peter Gould. Nos últimos episódios de “Better Call Saul”, o fechamento de ciclo acontece com a redenção de Jimmy pós-“Breaking Bad”. É reflexivo pensar que depois da transformação de Jimmy para Saul, passaríamos a ver o processo contrário.
Talvez para o protagonista, a consequência de tudo que aconteceu tenha sido a pior. No público, fica aquele sentimento estranho e familiar: gostamos dos personagens que fazem tudo errado e nos sentimos culpados por isso. Mais do que a morte para Walter ou viver fugindo como Jesse, Goodman se desmontou da pior maneira possível. Como McGill, vemos o último olhar do canastrão dobrando a esquina, o sentimento é único.
Dizer que “Better Call Saul” é uma aula de cinema parece óbvio. Séries de TV vem se tornando cada vez mais uma experiência cinematográfica semanal, servindo de exemplo para tudo que possa vir na frente. A série, sem dúvida, se une à “Breakind Bad”, “Game Of Thrones”, “Stranger Things”, “Família Soprano” e tantas outras que deixaram sua contribuição nesse mundo infinito e cheio de possibilidades do entretenimento.
*Fernando Martins é jornalista, escritor e grande entusiasta de produções televisivas. Criador do Uma Série de Coisas, escreve semanalmente neste espaço. Instagram: @umaseriedecoisas.
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