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Música

Conheça Larkin Poe, as irmãs americanas que estão levando o blues por caminhos inesperados

O duo do Tennessee, que já ganhou um Grammy, traz eletricidade e audácia feminina no álbum "Bloom". "As pessoas querem música autêntica", diz Rebecca

Rebecca Lovell e Megan Lovell, do duo Larkin PoeRebecca Lovell e Megan Lovell, do duo Larkin Poe - Foto: Jamie Mccarthy/GETTY IMAGES NORTH AMERICA/Getty Images via AFP

Tudo começou há cerca de 20 anos, quando três irmãs do Tennessee (Jessica, Megan e Rebecca) formaram o Lovell Sisters — trio de bluegrass que chegou a emprestar suas harmonias vocais e instrumentação acústica ao astro inglês de rock Elvis Costello em suas incursões pela música sulista americana.

Em 2010, o trio se desfez porque Megan e Rebecca resolveram formar um outro tipo de grupo. Lembrando da literatura de tons fortes de um antepassado ilustre — Edgar Allan Poe —, elas começaram com o Larkin Poe, um duo de blues rock que, depois de ganhar um Grammy de melhor álbum de blues contemporâneo no ano passado, voltou fumegante em janeiro com o álbum “Bloom”.

"Nós começamos na música clássica e depois fomos para o bluegrass. São dois gêneros acústicos. Mas, lá no fundo, ficávamos imaginando como seria se fôssemos (a cantora e guitarrista de rock) Joan Jett ou (a guitarrista e cantora de blues) Bonnie Raitt" conta, por Zoom, Megan, de 35, a irmã que faz os vocais de apoio e toca guitarra slide.

"Então decidimos nos eletrificar e, no começo, foi assustador porque não estávamos acostumadas com esse poder. Era como um motor acelerando atrás de nós! Mas sabe de uma coisa? Está tudo bem agora, não há problema em arrepiar alguns cabelos com o nosso som"

Depois de uma apresentação com Sheila E (percussionista da banda de Prince) na cerimônia preliminar do Grammy (do qual sairiam com a premiação), em fevereiro do ano passado, tudo mudou para as irmãs.

"Esse último ano foi algo sem precedentes para o Larkin Poe" diz Rebecca, de 34, guitarrista e vocalista principal do grupo.

"Teve o Grammy, o prêmio da Americana Music Association (de duo/grupo do ano), indicações da Americana Association no Reino Unido (ao prêmio de melhor artista internacional), todas essas experiências novas para nós. Porque fomos uma banda indie por muitos, muitos anos. E pouco antes do lançamento de “Bloom”, nos apresentaremos no Ryman Auditorium aqui em Nashville com Ringo Starr (aliás, elas estão em “Rosetta”, faixa de “Look up”, álbum solo que o beatle lançou no último dia 10). São coisas que nunca teríamos pensado que se concretizariam"

Para Rebecca, o fato de ela e Megan serem irmãs é a “arma secreta” do Larkin Poe:

"Passei 15 anos em uma banda com alguém que me conhece melhor do que qualquer outra pessoa na Terra. É muito, muito especial. Sem falar que cantamos maravilhosamente juntas, tocamos maravilhosamente juntas. É algo muito fácil de se fazer"

Do diálogo das irmãs, saíram para o novo disco canções como “If God is a woman” (“se Deus é mulher, o diabo também é, melhor se ajoelhar e orar”).

"Acho que a gente sempre gostou de compor músicas que cutucam o patriarcado. Somos uma banda feminina de rock raiz, um campo muito dominado por homens, acho que isso nos dá o direito de ter um pouco de impaciência com o sistema, e de desabafar sobre algumas dessas frustrações por meio da nossa música" defende Rebecca.

"Gostamos de fazer perguntas aos nossos ouvintes, do tipo “se Deus é uma mulher, isso não faria do diabo uma mulher também?”. Ainda hoje existe essa tendência de se resumir a experiência feminina a algo muito simples, bonito, doce e agradável. Então, acho importante imaginar o diabo como uma mulher. Mulheres podem ser agressivas, confrontadoras"

O Larkin Poe se orgulha de fazer parte de uma espécie de revival do blues promovido por jovens músicos americanos como os guitarristas Christone “Kingfish” Ingram (de 26 anos) e Tyler Bryant (de 33, marido de Rebecca), que já tocaram no Rock in Rio.

"Eu sinto que, mais do que isso, está acontecendo um renascimento da música com substância. Neste mundo tecnológico em que vivemos, as pessoas estão buscando por música que seja real e autêntica" observa Rebecca.

"Isso ocorre com o blues, o bluegrass, o country... É animador ver que essas tradições estão vivas e bem, sendo carregadas pelas mãos de gerações mais jovens. Essas formas de arte nunca morrerão, elas continuarão a evoluir"

As irmãs nunca se apresentaram em terras brasileiras, mas vontade não falta.

"Meu marido, (o guitarrista) Mike Seal, fez uma turnê no Brasil e ele fala tão bem daí... ele vive dizendo: “Vocês têm que ir, é incrível!”" anima-se Megan.

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