Seg, 08 de Dezembro

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Crítica: Lenine faz um dos discos do ano simplesmente ao ser Lenine

Inspirado em termos de composição, eficiente na construção sonora e recheado de participações escolhidas a dedo, 'Eita' condensa influências e resume obra & pensamento do pernambucano

LenineLenine - Foto: Divulgação

Artista com reconhecida personalidade, muitos talentos e boa abertura à colaboração, Lenine construiu uma discografia variada em termos de projetos — o que faz da chegada de “Eita” algo a ser festejado. Porque bem pode ser saudável a busca do cantor e compositor por novos formatos, por desafios inquietantes, mas quando ele se dispõe a simplesmente fazer um tradicional disco de inéditas de Lenine... aí vem algo que ninguém mais poderia realizar.

Inspirado em termos de composição, eficiente na construção sonora (pilotada pelo fiel escudeiro, o filho Bruno Giorgi), “Eita” poderia ter sido um dos grandes discos da MPB de 1996, assim como o é da MPB de 2025. Com o violão como norte (e espaços livres para que ele soe apenas junto da voz), o álbum condensa influências e resume obra & pensamento do pernambucano, em canções nas quais as palavras dançam na cadência das cordas percutidas. Sozinho, ou com parceiros como Dudu Falcão, Lula Queiroga, Arnaldo Antunes e Carlos Posada, Lenine faz disparar interjeições em faixas de comunicação imediata.

Esperançoso, exuberante, ele renova a fé no inesperado em “Confia em mim”, contagia o pianista Vitor Araújo com seus ritmos quebrados na faixa-título, soa mais romântico do que nunca em “Meu xamêgo” e faz maracatu indignado com baixo eletrônico e flautas de Carlos Malta em “O rumo do fogo”. Lírico de doer em “Foto de família”, Lenine encontra a sua melhor tradução na voz sobrenatural de Maria Bethânia — e não se amedronta diante do dueto, em uma gravação que reluz no filme idealizado para acompanhar o disco.

Participações/parcerias escolhidas a dedo do Grupo Bongar (no “Boi Xambá”), de Siba (na toada “Malassombro”), do guitarrista Gabriel Ventura (craque dos dedilhados e ambiências em “Beira”) e do acordeonista Mestrinho (em “Aos domingos”) trazem beleza e dinamismo a “Eita”. Eis aí um acontecimento da música brasileira que ainda balança ao sabor do trap (em “Deita e dorme”) e cospe uma sábia indignação em “Motivo” (“por A + B/ a pessoa sem palavra/ pode estar cheia de prata/ que não vale um tostão”).

Cotação: Ótimo

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