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NOVELA

Gahbi conquistou teste para interpretar o dedicado Polvilho depois que sua mãe abordou Amora Mautner

A novela que participa,"Elas por Elas", passa de segunda a sábado, na faixa das 18h

RAIO-X: GAHBI, O POLVILHO DE "ELAS POR ELAS"RAIO-X: GAHBI, O POLVILHO DE "ELAS POR ELAS" - FOTO: DIVULGAÇÃO", GLOBO

Se há alguém a quem Gahbi precisa agradecer por ter conquistado o papel do carismático Polvilho de “Elas por Elas”, é à própria mãe, Vera Adelaide. É claro que os 13 anos de carreira fizeram diferença para a aprovação no teste de elenco. Mas o empurrãozinho dado por ela, quando abordou a diretora Amora Mautner rapidamente e puxou papo depois de uma sessão da peça “Vocês Foram Maravilhosos”, de Marcos Veras, foi crucial.

“Fui até elas. Brinquei com Amora, dizendo que até 2025 faria uma novela dela. E ela me respondeu certeira, questionando: ‘por que não faz a próxima?’”, lembra Gahbi.

Na trama, Polvilho é aquele amigo que pode ser encarado como pau-para-toda-obra na vida da batalhadora Renée, papel de Maria Clara Spinelli. Funcionário de longa data da padaria da família dela, o rapaz se tornou um grande entusiasta dos deliciosos sonhos que a ex-patroa faz. “Além do lado profissional, Polvilho tem um carinho e uma empatia muito grande pela família de Renée. É um amigo fiel de todos eles”, analisa.

Inicialmente, a ideia era que Polvilho fosse apenas uma participação curta na reta inicial de “Elas por Elas”. Por isso, Gahbi acabou ficando fora do processo de preparação do elenco. “Soube poucos dias antes de começar a gravar qual era o personagem e onde ele estava situado. Dali, parti do texto mesmo. Busquei investigar a partir daquilo que o roteiro me dava”, entrega. Mais uma vez, dona Vera Adelaide se meteu no destino de Gahbi, abrindo seus olhos para um detalhe que poderia fazer toda a diferença. “Lembro que estava ansiosa e falei com minha mãe, que faz o melhor pão de queijo do planeta. Ela brincou que polvilho é muito importante para a receita dar certo. Uma metáfora para a função dele dentro daquela família da padaria”, conta Gahbi, que se identifica como uma pessoa não binária.

A dica funcionou e a interação com o núcleo de Niterói foi tão boa que decidiram manter Polvilho na trama. Mas pode ser que o personagem ainda demore a ganhar mais destaque ali, já que sua permanência está condicionada a um momento de virada – do qual Gahbi não chega a dar pistas de como ou quando será. “Estou feliz demais, encantado pelo Polvilho e por esse projeto. Faço com amor e entrega. Com a padaria fechada, Polvilho saiu da narrativa por um tempo. Mas a expectativa é de que o retorno venha quando rolar o plot-twist da Renée”, avisa.

Além da estreia nas novelas, Gahbi conseguiu um feito inédito em sua vida pessoal recentemente: foi a primeira pessoa não-binária a conseguir a retificação de gênero em uma ação judicial individual no Distrito Federal. “Essa conquista só foi possível graças ao apoio, incentivo e ação da minha mãe e da minha amiga e advogada Cíntia Cecilio. Entre ser homem ou mulher, eu sou uma falha no CIS-tema”, expressa, sem deixar de apontar o quanto a diversidade caminha “a passos de formiguinha” na televisão brasileira. “Se hoje ainda é uma questão relevante a decisão de haver ou não um beijo homoafetivo em novelas, se há todo um debate sobre cortar ou não, fica claríssimo que é ainda um tabu”, lamenta.

Confira pingue-pongue com o artista:

Nome completo: Gabriel Rodrigues Lopes de Siqueira Borges.

Nascimento: 23 de fevereiro de 1988, em Brasília, no Distrito Federal.

Atuação inesquecível: “Como a Fada Madrinha, uma fada drag, na peça ‘Cinderela’, com texto do José Wilker e direção da Luísa Thiré”.

Interpretação memorável: Fernanda Montenegro como Dora no filme “Central do Brasil”, de Walter Salles, lançado em 1998. “Já vi muitas vezes e sempre me emociono”.

Momento marcante na carreira: “Quando me mudei de Brasília para o Rio de Janeiro, em 2013, e fiz meu primeiro espetáculo em terras cariocas. Foi ‘Lisbela e o Prisioneiro’, no qual interpretei o matador Frederico Evandro. Foi desafiador”.

O que falta na televisão: “Protagonismos mais democráticos e com maior diversidade”.

O que sobra na televisão: “Programas de fofoca com entretenimento tóxico e apelativo”.

Com quem gostaria de contracenar: Fernanda Montenegro, Marieta Severo, Lázaro Ramos e Tony Ramos.

Se não fosse ator, seria: Infeliz. “Já trabalhei como professor de Língua Portuguesa, mas a minha paixão é pelas artes cênicas”.

Ator: Lázaro Ramos. “O trabalho dele tem me emocionado cada vez mais”.

Atriz: Fernanda Montenegro. “Tenho verdadeira paixão por ela e vejo tudo que ela faz”.

Humorista: Paulo Gustavo e Tatá Werneck.

Novela: “Avenida Brasil”, escrita por João Emanuel Carneiro e exibida originalmente pela Globo em 2012.

Vilão marcante: Carminha, papel de Adriana Esteves em “Avenida Brasil”, e Félix, vivido por Mateus Solano em “Amor à Vida”, novela escrita por Walcyr Carrasco e exibida originalmente pela Globo entre 2013 e 2014.

Personagem mais difícil de compor: Élcio Malta, no espetáculo “Íntimo”, e Lúcifer, na peça “O Inferno”. “Demandavam energias densas e exigiram muita concentração”.

Que novela gostaria que fosse reprisada: “Estrela-Guia”, escrita por Ana Maria Moretzsohn e exibida originalmente pela Globo em 2001. “Sou fã da Sandy e acompanhei as gravações em Pirenópolis, cidade da minha família”.

Que papel gostaria de representar: “Um vilão de João Emanuel Carneiro”.

Filme: “O Auto da Compadecida”, de Guel Arraes, lançado em 2000.

Autor: João Emanuel Carneiro.

Diretor: Amora Mautner.

Vexame: “Quando fiz o Padre Olavo em ‘O Pagador de Promessas’. Em uma sessão, vi que havia pessoas ilustres da classe artística na plateia, perdi a concentração e esqueci o bifão de texto. Fui salvo pela atriz Isis Pessino, que entrou rapidamente, dizendo: ‘se Padre Olavo não tem mais nada a dizer, eu digo...’. Foi tenso (risos)”.

Mania: “Ver, todo dia e pela manhã, como está o céu segundo a astrologia, no perfil da Claudia Lisboa”.

Medo: “Vou citar a Fernanda Torres: ‘Meu medo é perder o interesse pela vida’. Já experimentei o esvaziamento causado pela depressão e é terrível”.

Projeto: “De vida? Acho que conseguir me sustentar, pagar as contas, me manter e comprar a casa própria com o dinheiro do meu ofício de ator, sem precisar fazer jornadas duplas novamente, como no tempo em que trabalhava nas artes cênicas e na sala de aula”.

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