J. Michiles é frevo nas ruas e no cinema, em filme de Helder Lopes, que estreia nesta quinta (13)
"Frevo Michiles" conta a trajetória artística do compositor de inúmeros hits do Carnaval pernambucano
Já reparou que versos como “Um diabo louro faiscou na minha frente (...) chegou de bobeira, marcando zoeira no meio da praça/ quebrando vidraças, isso não se faz” ou “E na mistura colorida da massa/ Fui bater na praça a todo vapor/ Descambei passando pelos bares/ Cheirei a menina e voei pelos ares/ Do pique do frevo caí como um raio” dariam um bom roteiro cinematográfico para um filme sobre o Carnaval pernambucano?
Esses e tantos outros versos de J. Michiles, compositor pernambucano criador de sucessos como “Bom Demais”, “Me Segura Senão Eu Caio” e “Diabo Louro” são tão visuais e retratam tão fielmente o clima do Carnaval que, não só estão na ponta da língua dos foliões há décadas, como também inspiraram, sim, uma produção cinematográfica.
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Frevo Michiles”, documentário dirigido por Helder Lopes, conta a trajetória de José Michiles da Silva, 82 anos, Patrimônio Vivo de Pernambuco e autor de hits gravados por Alceu Valença, Fafá de Belém, Chico César, entre outros, e entoados por milhões de vozes todos os anos.
O filme estreia hoje (13) no circuito comercial e estará em salas de cinema de Rio de Janeiro, São Paulo, Recife, Maceió, Aracaju, Garanhuns e Caruaru. Na Capital pernambucana, “Frevo Michiles” será exibido no Cinema do Museu, em Casa Forte, e no Cinema São Luiz, no bairro da Boa Vista.
Michiles e o frevo
Qual primeiro frevo que compôs, J. Michiles não diz exatamente. Mas, lembra que, em 1966 - são mais de 60 anos dedicados à música -, foi vencedor do festival “Uma Canção para Recife”, com a marcha-canção “Recife Manhã de Sol”, defendida pelo cantor Marcus Aguiar. Com apenas 23 anos, Michiles ganhou de nomes como Capiba, Nelson Ferreira, Luiz Bandeira e outros “grandões” do Carnaval pernambucano, o que causou alvoroço no Recife.
Compositor também de boleros, maracatus e outros gêneros, o grande momento com o frevo, segundo ele, foi em 1986, quando estourou a música “Bom Demais”, na voz de Alceu Valença. “Foi a partir daí que meu nome passou a fazer parte da cena carnavalesca”, conta Michiles. De lá para cá, ano após ano, um frevo de sucesso atrás do outro. Grande parte deles gravada por Alceu Valença.
Até hoje, Michiles se emociona com a popularidade de sua obra. “A gente fazer uma música na nossa intimidade, na nossa solidão, e, de repente, vem 1,5 milhão de pessoas nas ruas, no Carnaval, cantando aquilo que você fez. Tudo isso é muito gratificante”, declara.
Filme
“Frevo Michiles” já foi exibido em Pernambuco, pela primeira vez, no Teatro do Parque, no Cine-PE de 2023, quando foi agraciado com o prêmio de Trilha Sonora e Prêmio da Crítica (Abraccine). Depois de circular por festivais pelo Brasil, estreia, agora, no circuito comercial.
O documentário aborda o universo criativo de Michiles, mas também perpassa um pouco da sua vida cotidiana, com depoimentos da família, filhos e netos, e apresenta ao espectador um mundo sob a perspectiva poética e carnavalizada do artista.
“Sempre me chamou a atenção (...) os frevos que a gente escuta, que a gente dança, canta e conhece as diversas interpretações (...) por trás daquilo tudo, sempre tive muita curiosidade de saber onde é que vinha”, relata Helder Lopes, que passou quatro anos convivendo com J. Michiles, no processo de feitura do filme.
E desse tempo de convivência, o que Helder procurou transpor para o filme foi esse olhar sobre “a profundidade das composições de J. Michiles”. “Poder ter me dedicado à obra, poder maturar isso e, sobretudo, a essa coisa da profundidade mesmo, poética, harmônica, das composições de Michiles… à complexidade mesmo, embora seja muito simples. Nesse caso, você fazer um frevo que as pessoas saiam cantando no outro dia”, comentou o cineasta.
SERVIÇO
"Frevo Michiles"
Estreia: 13 de fevereiro
Onde: Cinema do Museu - Av. Dezessete de Agosto, 2187, Casa Forte; e Cinema São Luiz - Rua da Aurora, 175, Boa Vista
Mais informações: @cinemadafundacao e @cinemasaoluizpe

