Começa apresentação de argumentos contra Hadi Matar, acusado de esfaquear Salman Rushdie em 2022
Hadi Matar é acusado de tentativa de homicídio no ataque ocorrido em 2022, quando Salman Rushdie estava prestes a discursar em uma conferência de artes no oeste do estado de Nova York
As declarações iniciais no julgamento do homem acusado de invadir o palco e esfaquear o autor Salman Rushdie em 2022, deixando-o cego de um olho, são esperadas para esta segunda-feira (10).
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O acusado, Hadi Matar, de Fairview, Nova Jersey, enfrenta acusações de tentativa de homicídio e agressão no ataque, que aconteceu diante de milhares de pessoas no anfiteatro principal da Instituição Chautauqua, no oeste de Nova York. Matar, que tinha 24 anos na época, se declarou inocente.
Na semana passada, um júri foi selecionado para o julgamento, que ocorrerá no Tribunal do Condado de Chautauqua, em Mayville, Nova York, cerca de uma hora ao sul de Buffalo.
Jason Schmidt, promotor do caso, planeja chamar 15 testemunhas para depor contra Matar, que pode pegar até 32 anos de prisão se for condenado por ambas as acusações, segundo registros judiciais.
Rushdie, de 77 anos, estava prestes a dar uma palestra sobre escritores exilados quando foi atacado.
Ele passou grande parte da vida se escondendo do governo iraniano e de extremistas islâmicos após o lançamento de seu romance de 1988, Os Versos Satânicos.
Segundo os promotores, Rushdie deve testemunhar durante o julgamento. Matar também enfrenta acusações federais relacionadas ao terrorismo em Buffalo.
Ele é acusado de oferecer "pessoal, especificamente a si mesmo, e serviços" a terroristas, além de fornecer "apoio material e recursos" ao Hezbollah, uma milícia apoiada pelo Irã no Líbano, onde ele cresceu, de acordo com a acusação formal.
Um juiz adiou o julgamento estadual em janeiro de 2024 para que o defensor público de Matar pudesse obter trechos do manuscrito do livro Knife: Meditations After an Attempted Murder (Faca: Meditações Após uma Tentativa de Assassinato), no qual Rushdie relata o ataque.
O livro foi publicado em abril. Na obra, Rushdie descreve um profundo ferimento de faca na mão esquerda, dois no pescoço e outro no rosto.
“E havia a faca no olho”, escreveu ele. “Esse foi o golpe mais cruel, e foi uma ferida profunda. A lâmina entrou até o nervo óptico, o que significava que não havia possibilidade de salvar a visão. Estava perdido”.
O julgamento foi reagendado pelo menos duas vezes, incluindo uma ocasião em que o defensor público, Nathaniel Barone, solicitou a transferência do caso para fora do Condado de Chautauqua, alegando que seria impossível para seu cliente ter um julgamento justo em uma região onde o caso era amplamente conhecido.
O Tribunal de Apelação de Nova York negou o pedido em outubro, e uma nova data foi marcada para fevereiro, segundo Madeline H. Contiguglia, porta-voz da promotoria do Condado de Chautauqua.
Salman Rushdie, romancista britânico nascido na Índia em uma família muçulmana, escreveu 25 livros e ganhou o Prêmio Booker por Os Filhos da Meia-Noite.
Ele atraiu atenção mundial ao publicar Os Versos Satânicos, um relato parcialmente ficcional do profeta Maomé que alguns muçulmanos consideraram blasfemo.
Em 1989, o aiatolá Ruhollah Khomeini, então líder supremo do Irã, emitiu uma fatwa, ou decreto religioso, ordenando que muçulmanos assassinassem Rushdie.
Na época morando em Londres, Rushdie passou a viver em uma casa fortificada sob proteção da polícia britânica durante a década seguinte.
Nos anos que antecederam o ataque, porém, ele retomou sua vida pública. Residente nos Estados Unidos há 20 anos e cidadão americano, Rushdie circulava livremente por Nova York e outras partes do país sem aparente segurança.
Já Matar tornou-se mais isolado e obcecado pelo islamismo após uma viagem ao Oriente Médio em 2018, segundo sua mãe, Silvana Fardos.
Em agosto de 2022, Matar pegou um ônibus para Chautauqua e comprou um ingresso para assistir à palestra de Rushdie.
Pouco depois de o autor subir ao palco e se sentar, Matar correu até ele e o esfaqueou cerca de 10 vezes, segundo autoridades e vídeos do ataque. Espectadores correram para ajudar Rushdie e contiveram o agressor.

