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"Pssica": nova minissérie brasileira da Netflix aborda temas densos em cenário amazônico

Com produção de Fernando Meirelles, a série inspirada no romance policial homônimo escrito por Edyr Augusto estreia nesta quinta-feira (20)

Trama de "Pssica" entrelaça histórias de três protagonistasTrama de "Pssica" entrelaça histórias de três protagonistas - Foto: Rodrigo Maltchique/Netflix

"Pssica", nome da nova minissérie da Netflix, é uma gíria regional típica do Pará - com origem na língua indígena nheengatu - usada para desejar má sorte a alguém. Essa maldição recai sobre os três protagonistas da produção, que chega à plataforma de streaming nesta quarta-feira (20), carregada de violência e adrenalina. 

Com roteiro de Bráulio Mantovani, a série é uma adaptação do livro homônimo do escritor paraense Edyr Augusto. O ponto de partida da trama é Janalice, vivida pela estreante Domithila Cattete. Após ter um vídeo íntimo vazado, a adolescente ribeirinha passa a viver com a tia em Belém. 

Sem qualquer preparo para os perigos da cidade grande, a garota é sequestrada por uma rede de tráfico sexual. Seu caminho se cruza com o de Preá, personagem de Lucas Galvino, que integra uma gangue de "ratos d'água" - criminosos que saqueiam embarcações na região.

O rapaz é um dos alvos da vingança de Mariangel, interpretada pela atriz colombiana Marleyda Soto. Com um passado ligado aos conflitos armados na Colômbia, a mulher vê o marido e o filho serem assassinados a sangue frio pelos piratas fluviais, armando um plano para encontrar os culpados e fazê-los pagar por sua dor.

Parceria entre pai e filho
A direção é de Quico Meirelles, filho do cineasta Fernando Meirelles ("Cidade de Deus"), que dirige um dos episódios e produz a minissérie. Partiu do cineasta a ideia de levar o livro para as telas, o que acontece em um momento em que a adultização de crianças e adolescentes está no centro dos debates, após as denúncias feitas pelo influenciador Felca. Além disso, a estreia do filme "Manas", de Marianna Brennand, já havia direcionado as atenções no audiovisual para a exploração sexual de meninas na Ilha do Marajó.
 

Minissérie Domithila Cattete interpreta adolescente vítima de tráfico sexual (Foto: Aline Arruda/Netflix)

A estreia encontra um ambiente propício à discussão dos temas levantados pelo roteiro, fazendo isso com a responsabilidade necessária. Embora a violência contra as mulheres esteja presente ao longo dos dois primeiros episódios (que a Folha de Pernambuco teve acesso antecipado), é nítida a escolha da direção de não representá-la de maneira gráfica, preservando o espectador e as atrizes envolvidas nas cenas. 

Produzida pela O2 Filmes, "Pssica" traz elementos do bom cinema brasileiro para o mundo do streaming. A fotografia com cores saturadas transporta o calor de 30º de Belém e entrega a quem assiste, a partir das filmagens em locações da Amazônia atlântica, um vislumbre do contraste entre a natureza e o progresso urbano na região.

Ritmo acelerado
Os movimentos de câmera, enquadramentos e cortes de cena propostos emulam o ritmo frenético da escrita de Edyr Augusto, que costuma ser também objetivamente descritiva. Frases retiradas diretamente do livro são lançadas na tela para representar as ações dos personagens. Mantendo aquilo que torna o romance policial tão elogiado, a minissérie choca e, ao mesmo tempo, prende a atenção. 

Na versão para o audiovisual, no entanto, a crueza da narrativa é quebrada pela intensidade das atuações. Domithila Cattete debuta na tela como uma aposta promissora, suportando com espantosa maturidade artística o peso de uma personagem tão delicada. Marleyda Soto, por sua vez, repete a força matriarcal que a tornou o centro das atenções em "Cem Anos de Solidão".

Vale destacar ainda a presença de nomes pernambucanos no elenco, como a influenciadora e atriz Ademara - em um papel que mostra seu potencial para além da comédia -, Sandro Guerra, Bruno Goya e Maycon Douglas. 

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