Quem é Gominho, o amigo e fiel escudeiro que largou tudo para apoiar Preta Gil após o câncer
Multiartista pediu demissão e foi morar com a cantora depois do diagnóstico
Em janeiro de 2023, assim que recebeu a notícia de que Preta Gil estava com câncer, Vinicius Gomes da Costa, o Gominho, pediu demissão do emprego fixo, devolveu o apartamento alugado em Salvador e fez as malas rumo ao Rio de Janeiro.
Multiartista e comunicador de 35 anos, nascido e criado em Bangu, havia se mudado para a capital baiana em 2021, trabalhava no "Música boa", do Multishow, com Ivete Sangalo, comandava um programa numa rádio pop baiana, havia acabado de lançar disco como cantor, impulsionado por Ivete e Preta, mas, diante da notícia, nem pensou duas vezes: "Amiga, estou indo morar com você", avisou.
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Foram dois anos de estreita convivência e de um amor fraterno que ele detalha na entrevista abaixo, concedida em fevereiro de 2025. Preta Gil morreu neste domingo (20), em Nova York:
A amizade de vocês emociona. Como sente a reação das pessoas?
Desde que resolvi ficar com ela, por onde vou, as pessoas me indagam de um jeito muito passional sobre a nossa amizade. Não imaginava essa comoção. A gente é tão irmão... Desde que nos encontramos, 15 anos atrás, brincamos que sou o pai dela, que ela é minha prima, mãe, tudo. Essa comoção me fez refletir como as pessoas estão carentes de amizade. Fico feliz, mas foi um movimento natural. Sei que ela faria o mesmo por mim. Temos essa intimidade de atravessar a vida do outro em prol do bem e para o bem.
É que esse negócio de largar o emprego para ficar ao lado da amiga é muito forte...
Se eu fosse um trabalhador brasileiro, talvez não tivesse abandonado o emprego. Mas sou um comunicador, tenho muitos contatos, não seria difícil arrumar outro. Acho louco isso de as pessoas ficarem chocadas. Entendo que emprego é tudo para muita gente, vivemos num país difícil, mas fiquei muito reflexivo em relação à importância que as pessoas dão às coisas materiais. Só larguei um emprego e um apartamento alugado para estar com minha amiga, que, isso sim, é tudo.
Como foi quando chegou no Rio para ficar com Preta?
Tinha um tempo que a gente não se via pessoalmente por causa da pandemia, só falávamos por zap. Quando ela me deu a notícia, na hora, fui visitá-la. Quando cheguei, me deparei com o cenário do ex-marido. Senti que estava rolando alguma coisa estranha para além do abandono que ele estava fazendo, extremamente negligente com ela. Depois, descobrimos a traição. Na hora, nem pedi, só avisei: "Estou vindo morar com você". Voltei para Salvador, pedi demissão, entreguei o apê e vim depois de uma semana. Isso foi no início de 2023.
Como começou a amizade?
Fui num show dela no Circo Voador. Eu conhecia, sabia que era cantora pela capa do CD pelada ("Pret-à-Porter", disco que a cantora lançou em 2003). Na época, falei: "Meu Deus, que mulher icônica". Aí, tinha esse show e pensei: "Vou!". Ela me viu dançando e chamou: "Vem dançar no palco". Depois: "Menino, volta semana que vem, vou te dar ingresso". Aí, me seguiu nas redes. Adriane Galisteu me viu pelas redes da Preta, perguntou sobre mim, disse que estava pensando em me chamar para a TV, e Preta me impulsionou. Aí passei a frequentar todos os shows e a casa da Preta. Isso em 2010/2011.
Há todo um círculo de amigos mais próximos, não é?
Tem a DJ Jude Paulla, a maquiadora Soraya Rocha, o cantor Duh Marinho, a empresária e braço direito Malu Barbosa, Marina Morena... Preta é cercada de amor, poderia falar uns 15 nomes de pessoas absolutamente próximas. É uma rede de apoio de fato. É a primeira vez que falo uma expressão e vejo ela acontecer de verdade, na prática. É uma rede de astral, de amor, de cuidado. Isso de fato muda o mundo, me muda, muda a Preta. E a gente faz isso não só por ela, mas pela gente também.
Quando ela está em casa, como você ajuda? E no hospital?
Na nossa divisão das amizades, Malu, Soraya e Jude ficam com a parte dos cuidados, dormem no hospital. Eu sou mais "mana brisa", disperso das coisas burocráticas, como remédios, que são muitos. Fico com a parte astral, da companhia, de animar. Só de estarmos calados um do lado do outro já é ótimo. Também cuido do que ela vai comer.
Ao que você a apega? Alguma fé ou ritual específico?
Me apego à música e muito a mim e a minha relação com o mundo. Tenho fé no todo. Frequento o candomblé, vou à missa, sou ecumênico, mas isso é só um complemento espiritual. Meu lance mesmo é me desbravar como ser humano, me entregar para o bem e para o mal. Não tenho medo, não.
Nem da morte?
Nem. Não tenho medo de a Preta morrer. Até porque, tenho um entendimento sobre a morte... Só nasci para morrer e mais nada. Só temos duas certezas: que a gente nasceu e que vai morrer. Ouvi muito o pai dela (Gilberto Gil). As canções dele me ajudaram a ampliar esse pensamento. Até para facilitar a vida, não ficar com tantos medos.
Como é a sua relação com o resto da família? São muito unidos.
Ótima. Flora é uma figura. Compus uma música com a Flor, Duh Marinho e Vitão, talvez use no meu próximo álbum. Não tem nome ainda. Gil é uma graça, muito na dele. Gosto muito quando está quietinho, tocando o violão dele. É lindo, um privilégio para quem presencia. Passamos o segundo réveillon juntos. Ano passado foi em Salvador; esse ano, no hospital. O Franzinho (Francisco Gil, filho de Preta) conseguiu mexer na agenda para estar mais presente agora. Como a Preta era muito do corre, eu via a família raramente, mas agora...
São como todas as famílias. Gil tem essa imagem de divindade musical, o dom da palavra, só que convivendo, você percebe que família é tudo igual mesmo, só muda o CEP. Tem as tretas, os carinhos, os dilemas, as entregas.
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O que é amizade para vc?
É família. Minha família é baseada demais nos meus amigos. Por isso, tenho essa entrega, que é uma questão astral e não sanguínea.

