"Uma Batalha Após a Outra": Paul Thomas Anderson entrega obra-prima em sátira política e social
Filme, que estreia nesta quinta-feira (25) no Brasil, reflete crescente tensão nos Estados Unidos, com humor, ironia e ação
“Uma Batalha Após a Outra” poderia muito bem vir com um aviso de conteúdo “altamente inflamável” antes de sua exibição. O filme, que estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (25), traz críticas políticas e sociais bem diretas aos abusos institucionalizados praticados nos Estados Unidos, esquentando um pouco mais a já acalorada polarização vivida por lá.
Primeira trama contemporânea dirigida por Paul Thomas Anderson desde “Embriagado de Amor” (2002), o longa-metragem é imbuído de um forte senso de urgência. Ao adaptar de forma muito livre o livro “Vineland”, escrito por Thomas Pynchon e publicado em 1990, o cineasta buscou captar temas que movimentam a sociedade norte-americana, como racismo, xenofobia e imigração, com uma divertida acidez.
Respeitado por filmes como “Magnólia” (1999), “Boogie Nights - Jogos de Prazer” (1997) e “Sangue Negro” (2007), Paul Thomas Anderson tem em mãos uma obra-prima que representa o ápice de sua carreira. “Uma Batalha Após a Outra” já vem sendo apontado pela crítica especializada como o filme do ano e grande favorito na corrida pelo Oscar 2026. Diante das inegáveis qualidades do longa, essas afirmações não soam exageradas.
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Exibindo fotografia, som, edição e trilha sonora dignas das maiores premiações da indústria, o filme impressiona também pelas excelentes atuações e, especialmente, pelo roteiro bem estruturado. A narrativa transcorre de forma fluida, alternando debate social com humor e cenas de ação eletrizantes, fazendo com que as quase três horas de tela passem como em um piscar de olhos.
Sem dúvidas, um dos grandes focos de atenção midiática para o longa é a presença no elenco de Leonardo DiCaprio, em sua primeira colaboração com Paul Thomas Anderson. O ator, que tem a chance de conquistar sua oitava indicação ao Oscar com o papel, vive um revolucionário antissistema, membro do French 75. Entre outras ações, o grupo radical é responsável pela libertação de imigrantes apreendidos e por implantar bombas em órgãos governamentais.
O primeiro ato do filme é focado nas missões de Bob (DiCaprio) ao lado de Perfidia (Teyana Taylor), sua companheira na luta e na vida. A sedutora revolucionária é movida por uma insaciável sede de adrenalina, colocando-se voluntariamente em situações de risco iminente. Essa característica acaba ameaçando também a segurança de sua família, fazendo com que seu companheiro tenha que fugir com a bebê deles.
Após um salto no tempo de 16 anos, o longa transporta o público para a pacata nova vida de Bob na pequena cidade de Baktan Cross, empenhado em criar Willa, interpretada por Chase Infiniti, que desponta como uma promissora revelação. Afastado há muito tempo das missões, o ex-revolucionário precisa enfrentar forças governamentais violentas para salvar sua filha.
A saga empreendida por Bob, no entanto, está longe de ser um resgate implacável ao moldes dos estrelados por Liam Neeson e Steven Seagal. Com o corpo prejudicado por anos de vício em álcool e drogas, esquecido até mesmo dos códigos secretos da organização, o personagem se atrapalha todo em suas ações, cativando mais por sua dedicação como pai do que pela performance como guerrilheiro. A dobradinha com Benicio del Toro, na pele de um professor de karatê, garante alguns dos momentos mais hilários do filme.
O grande inimigo de Bob é o aterrorizante Coronel Lockjaw, papel que entrega a Sean Penn a oportunidade de reafirmar o seu brilhantismo como ator de cinema. Enquanto o protagonista se apresenta como um herói improvável, o antagonista caminha entre o repulsivo e o ridículo, obstinado em fazer parte de uma organização secreta de supremacistas brancos batizada de Clube dos Aventureiros do Natal. Com esses elementos, “Uma Batalha Após a Outra” expõe o lado patético de uma visão ideológica, construindo um sátira política sem sutilezas e com posicionamento claro.

