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Piora nas projeções de déficit fiscal impõe desafio ao governo, dizem economistas

Resultado apontado pelo relatório bimestral põe em xeque credibilidade do arcabouço fiscal

Notas de cem reaisNotas de cem reais - Foto: José Cruz/Agência Brasil

A piora nas projeções para o déficit nas contas públicas, apresentada no relatório bimestral divulgado pelo governo nesta sexta-feira, impõe um desafio ao governo federal. Essa é a avaliação de analistas, que estimam que o resultado pode pôr em xeque a credibilidade do arcabouço fiscal.

Para Tiago Sbardelotto, economista da XP, há entraves tanto do lado da despesa quanto da receita. Ele lembra que a despesa cresceu esse ano por conta da PEC da transição, e a expectativa é de que cresça 2,5% acima da inflação no ano que vem. Não há muito espaço para cortes, considerando que boa parte das despesas são obrigatórias. E, mesmo as discricionárias, é preciso justificativas para eventuais contenções.

Do outro lado, há uma incerteza com relação às receitas. Segundo o economista, a projeção do governo vem se reduzindo em razão da arrecadação menor que o esperado, em meio à queda da inflação projetada e medidas anunciadas que tanto não foram implementadas de forma integral quanto ainda não trouxeram os resultados esperados.

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Resta saber como o governo irá agir no ano que vem, quando o arcabouço fiscal estiver vigente. Sbardelotto destaca que o governo vai precisar de medidas adicionais para fechar o orçamento e essas medidas podem não ser aprovadas ou não arrecadarem o esperado:

— E aí entra o importante: o governo vai promover o contingenciamento de R$ 50, R$ 60 bilhões que é esperado? Vai assumir que não vai conseguir cumprir a meta e acionar os gatilhos em 2025 e 2026? Se não fizer o contingenciamento e optar por uma mudança da meta, aí vejo um problema grave porque começaria o primeiro ano com uma mudança e uma falta de comprometimento do governo com o arcabouço que ele mesmo aprovou — afirma.

Felipe Salto, economista-chefe e sócio da corretora Warren Rena, avalia que dificilmente o déficit será zerado no ano que vem. Ele projeta um déficit de 0,9% do PIB, bem superior que o 0,25% do PIB, referente à banda inferior da meta de zero proposta.

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— Por isso a pressa do governo para avançar com novas medidas e até mesmo com a reforma da tributação da renda.

Na avaliação do economista, contudo, as projeções - incluindo às indicadas pelo próprio governo no relatório bimestral - não alteram em nada a percepção sobre a boa qualidade do projeto de lei complementar do arcabouço. O desafio, na verdade, é de gestão, diz Salto:

— Precisamos agora ver como o governo executará o plano e cumprirá as regras com as quais está se comprometendo, que são, sim, mais flexíveis, mas têm restrições, a exemplo de toda a lista de gatilhos. Se o governo descumprir a meta de primário no ano que vem, terá sanções: gatilhos e aperto na taxa de variação do limite de gastos. Talvez setores do governo não tenham se apercebido disso.

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