Sex, 26 de Dezembro

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Tarifas de Trump podem reconfigurar mapa da produção global de veículos, diz Anfavea

Presidente da entidade, Márcio de Lima Leite, vê queda na produção de aço no Brasil se produto for tarifado

Presidente dos EUA, Donald TrumpPresidente dos EUA, Donald Trump - Foto: Jim Watson / AFP

As tarifas que o presidente americano Donald Trump já anunciou — e as que ele ameaça anunciar — podem provocar uma reconfiguração da produção global de veículos. A avaliação é de Márcio de Lima Leite, presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), que representa as montadoras.

A imposição de tarifas, diz o presidente da Anfavea, cria insegurança para os fabricantes, já que as montadoras têm unidades no Brasil, mas também fábricas em outros países.

— Isso acaba provocando uma reconfiguração e o setor tem trabalhado constantemente nos cenários futuros para entender essas medidas e ver onde será melhor e pior produzir — afirma.

Se Trump impuser tarifas ao aço, Lima Leite também vê impactos para a indústria automotiva. Tarifa sobre o aço brasileiro resultaria em menor volume de produção nacional do produto, diz Lima Leite.

— Precisamos de uma indústria forte de aço, que seja competitiva e que tenha escala. O aço vem passando por grandes mudanças de tecnologia e vem recebendo investimentos. O aço brasileiro tem importante participação das exportações para os EUA e tarifa sobre aço resultaria em menor volume da produção aqui. E perder volume significa impacto sobre a competitividade — explicou Lima Leite.

Para Lima Leite, as novas medidas de Trump trazem um momento de muita imprevisibilidade ao mercado automotivo, especialmente sobre os reflexos que elas podem trazer para o setor no Brasil e na América Latina.

Quando há imposição de tarifas, diz o presidente da Anfavea, pode-se imaginar um redirecionamento de parte das exportações aos EUA para outros países.

Ele lembra que o México produz 4,3 mil veículos por ano, mas o mercado mexicano é de pouco mais de um milhão de unidades e 80% das exportações são direcionadas aos Estados Unidos. Um aumento de tarifa de 25% pode gerar uma capacidade ociosa no México, assim como um excesso de produção na China e no Canadá, diz. Se isso acontecer, essas exportações poderão ser direcionadas para o mercado da América Latina que é foco de crescimento para o Brasil via exportações.

— E também para o Brasil diretamente. Então nós estamos vivendo um momento de certa insegurança com essas medidas, sobre o que vai acontecer — diz Lima Leite.

Os Estados Unidos suspenderam por um mês a tarifa de 25% sobre produtos do México e do Canadá, mas mantiveram a tarifa de 10% para a China, que revidou impondo tarifas sobre US$ 14 bilhões em produtos americanos exportados para o país asiático.

Ele cita também possíveis oportunidades de aumento de exportações para o Brasil. O México, por exemplo, é um grande concorrente do Brasil. Com as tarifas, o Brasil pode ter custos mais competitivos.

— Então é hora de ter calma, de ter serenidade, e entender que essas mudanças podem apresentar oportunidades para o Brasil, sem se esquecer dos riscos.

Lima Leite diz que a volatilidade da economia global também pode trazer impactos para o Brasil de uma forma geral. A desvalorização cambial, que não aconteceu apenas no Brasil, mas também no Japão, Argentina e no próprio México, acaba fazendo com que os países que sejam os principais concorrentes do Brasil possam ter ganho de competitividade, em alguns momentos.

— E isso (câmbio) também tem reflexo em aumento de inflação, que pode fugir um pouco das atuais previsões de 4,5%, 5% para este ano. Mas principalmente resultar em elevação da taxa de juros. Taxa de juros acima de 14% é mais um risco sobre o setor automotivo — diz ele, lembrando que historicamente as vendas ocorrem com 70% de financiamento, mas no ano passado esse patamar ficou em 45%.

— Este ano, nós temos um grande desafio, que é fazer o mercado crescer, sabendo que o custo de financiamento será impactado — disse.

Lima Leite afirmou que há também insegurança e falta de previsibilidade nos acordos comerciais.

— O que vai acontecer com os acordos? Eles serão mantidos, serão estreitados, serão redirecionados, alterados. Então os acordos comerciais passam a ser muito importantes. Principalmente quando a gente fala de previsibilidade. Todas essas alterações criam um mar um pouco revolto para o ano de 2025 — diz ele, lembrando as declarações do presidente argentino, Javier Milei, sobre a possibilidade de deixar o Mercosul, já que o país vizinho é o principal destino das exportações brasileiras.

Vendas crescem em janeiro
As vendas de veículos, em janeiro deste ano, retomaram o patamar de 2021 ao atingir 171,2 mil unidades, um crescimento de 6% em relação a janeio do ano passado. É o maior crescimento no período desde 2021. Já a produção de veículos no primeiro mês do ano chegou a 175,5 mil unidades, alta de 15,1% na compração com o mesmo mês de 2024.

A exportação cresceu 52,3% em janeiro, atingindo o patamar de 28.7 mil unidades vendidas ao exterior, na compração com 18,8 mil veículos exportados no primeiro mês do ano passado.

As importações de veículos mantiveram o ritmo de alta e cresceram 24,8% no mês passado, chegando a 39,3 mil unidades frente aos 31,5 mil unidades imprtadas em janeiro do ano passado. É o maior patamar de importações em janeiro desde 2020, quando foram importadas 22,3 mil unidades. Argentina e China são os países de onde mais o país importou.

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