Trump não é tão poderoso assim, diz Nobel de Economia
Paul Krugman, vencedor do Nobel de Economia, diz que tarifaço prejudica a própria economia americana e considera um 'delírio de grandeza' o uso de taxas para forçar mudanças políticas em outro país
Vencedor do prêmio Nobel de Economia, o economista americano Paul Krugman voltou a criticar o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pela imposição de tarifas a quase todos os países do mundo. Para ele, o presidente americano não está ''vencendo sua guerra comercial''. Pelo contrário: suas medidas são claramente ilegais.
Para ele, a sobretaxa de 50% imposta ao Brasil é um exemplo flagrante de ilegalidade ao querer influenciar a política interna de outro país e usar sua política comercial para pressionar outras questões que não estejam relacionadas à economia.
"Acho que nem o advogado mais inescrupuloso conseguiria encontrar algo na lei americana que dê ao presidente o direito de impor tarifas a um país, não por razões econômicas, mas porque não gosta do que o Judiciário daquele país está fazendo'', escreveu o economista, em uma publicação na rede Substack.
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Krugman lembrou que, embora alguns parceiros comerciais importantes — especialmente a União Europeia — estejam ''fazendo de conta'' que estão cedendo para agradar o presidente americano, e na verdade as medidas anunciadas por esses países não passam de algo ilusório.
''Trump pode achar que pode governar o mundo, mas ele não tem o suco de laranja ou de outro tipo”, afirma, no texto 'Trump/Brasil: Delírios de grandeza vão por água abaixo' , publicado nesta sexta-feira, em referência à isenção do suco de laranja brasileiro, responsável por 90% das importações americanas do produto, das tarifas anunciadas esta semana.
No início de julho, ao comentar a carta enviada por Trump ao governo brasileiro anunciando que os produtos brasileiros seriam taxados em 50%, o economista disse que tarifaço sobre Brasil é ‘maligno e megalomaníaco’ .
O economista acrescentou que as negociações de Trump com o Brasil são “excepcionais”, para começar porque o país enfrenta tarifas consideravelmente mais altas do que as impostas a qualquer outro parceiro comercial, e que as exigências de Trump em relação ao Brasil são de natureza diferente das que ele faz a outras nações.
Krugman lembra que União Europeia e o Japão foram alvos por supostas práticas comerciais desleais, enquanto que o Canadá teve suas tarifas ampliadas de 25% para 35% sob a alegação de que é uma fonte importante de fentanil. Já no caso do Brasil, Trump vinculou explicitamente as tarifas à ousadia do país em julgar o ex-presidente Jair Bolsonaro por tentar reverter a eleição que perdeu para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Krugman acusa Trump de ser um “inimigo da democracia e da responsabilidade de aspirantes a autoritários”:
"Mas isso nós já sabíamos'', afirma, enfatizando que é totalmente ilegal um presidente dos EUA usar tarifas com o objetivo de influenciar a política interna de outro país.
Segundo sua análise, Trump e seus assessores realmente acham que podem usar tarifas para intimidar o Brasil a desistir de seus esforços para defender a democracia, sendo que tem uma capacidade baixa de participação no comércio com o país. Hoje, 88% das exportações brasileiras vão para países que não são os Estados Unidos.
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Para ele, a isenção de taxas sobre o suco de laranja, insumo sobre o qual 90% é importado do Brasil, acabou sendo, uma admissão implícita de que quem paga as tarifas são os consumidores americanos, e não os exportadores estrangeiros.
E mais: Krugman acredita que, como era de se esperar, as tarifas parecem estar saindo pela culatra politicamente. Isso porque, conclui ele, as ameaças contra o Brasil aumentaram a popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
"Como eu disse, Trump pode achar que pode dominar o mundo, mas não tem o sumo, seja de laranja ou de qualquer outra cor. Na verdade, ele está, sem querer, dando ao mundo uma lição sobre os limites do poder dos EUA", resumiu em sua publicação.

