Autoridades de Montenegro planejam revisar leis sobre porte de armas após ataque a tiros no ano-novo
Entre os 12 mortos há duas crianças, e um luto nacional de três dias foi decretado; suspeito, que se suicidou, estava embriagado e tinha histórico de posse ilegal de armas
Montenegro amanheceu nesta quinta-feira de luto, que se estenderá por mais dois dias, depois que um homem armado e embriagado matou 12 pessoas, incluindo duas crianças, e feriu outras quatro na véspera. O suspeito, identificado como A.M, de 45 anos, tirou a própria vida com um tiro na cabeça após ser cercado por policiais. O ataque chocou o pequeno país Balcã em meio às comemorações de fim de ano, e autoridades cogitam uma proibição total do porte de armas.
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As ruas de Cetinje e Bajice, ambas no sul do país, estavam desertas na manhã desta quinta, e uma patrulha policial estava estacionada em frente à casa do atirador, na entrada do vilarejo Bajice, de acordo com um fotógrafo da AFP. O prefeito da capital Podgorica, Sasa Mujovic, disse que velas seriam acesas para as vítimas na praça principal da capital nesta noite.
— Matar crianças (...) é completamente sem sentido. Isso não é um crime, é algo mais do que isso — disse o aposentado Danilo Zecevic à AFP em Cetinje.
O primeiro-ministro Milojko Spajic classificou o ataque a tiros de quarta-feira como uma "terrível tragédia", descrevendo-o como uma "briga de restaurante" que deu errado e prometeu endurecer os critérios do país para a posse de armas de fogo. O premier sugeriu que a "tragédia" deveria levar a uma revisão das leis de posse de armas do país.
De acordo com a polícia, o caso começou por volta das 17h30 (13h30 em Brasília) de quarta-feira em um restaurante em Bajice, próximo à cidade de Cetinje. O chefe de polícia Lazar Scepanovic disse que o atirador "havia consumido bebidas alcoólicas durante todo o dia” antes de uma discussão entre ele e outro cliente do estabelecimento
— [Após a discussão] ele foi para casa, pegou uma pistola e matou quatro pessoas — afirmou o chefe de polícia.
Entre os quatro mortos estaria o dono do restaurante e dois parentes seus, um de 10 e outro de 13 anos, segundo o ministro do Interior, Danilo Saranovic. Em seguida, disse o chefe de polícia, o atirador foi "a outros três locais", onde matou oito pessoas, incluindo pessoas próximas. As vítimas "eram padrinhos, amigos".
— Ele tentou matar outras quatro pessoas, cujas vidas agora estão fora de perigo — continuou Scepanovic, acrescentando que o motivo do ataque "ainda é desconhecido".
Os quatro feridos foram transportados para um hospital na capital. O ministro da Saúde, Vojislav Simun, afirmou nesta quinta-feira que a vida de três deles ainda está em perigo. A informação diverge de um comunicado do hospital, que afirma que todos os quatro estavam em uma unidade de terapia intensiva (UTI) e suas vidas corriam perigo.
O atirador foi encurralado por policiais próximo à sua casa e atirou contra a própria cabeça. Scepanovic disse que os agentes tentaram socorrer o suspeito, mas ele não resistiu aos ferimentos. A polícia descartou qualquer "confronto entre grupos criminosos organizados", disse o chefe de polícia, acrescentando que o atirador tinha um histórico de posse ilegal de armas.
Cetinje, que tem cerca de 13 mil pessoas, é o local da antiga capital real e fica em um vale montanhoso que, em grande parte, estagnou economicamente. A área e seus arredores são redutos de grupos do crime organizado, e esporadicamente surgem confrontos entre clãs rivais da máfia.
Em junho, duas pessoas foram mortas em uma explosão em um centro esportivo da região, um ataque ligado ao crime organizado que, junto com a corrupção, continua sendo um dos grandes problemas que assolam Montenegro e que as autoridades se comprometeram a enfrentar em sua tentativa de ingressar na União Europeia (UE).
Controle de armas
Um comunicado do governo afirma que o Conselho de Segurança Nacional do país se reunirá na sexta-feira para analisar os "principais desafios na detecção e apreensão de armas ilegais", bem como o recrutamento de mais policiais. O premier do país postou anteriormente no X que "todas as opções, incluindo a proibição total da posse de armas", seriam consideradas.
Igor Simonovic, morador de Cetinje, enfatizou que "as armas devem ser colocadas sob rígido controle". A rede CNN destacou que leis para controle de armas provavelmente enfrentarão forte oposição no país, que tem uma cultura profundamente enraizada no armamento. De acordo com o Small Arms Survey (SAS), um programa de pesquisa suíço, há aproximadamente 245 mi armas de fogo em circulação em Montenegro.
A rede observou ainda que, apesar das leis rígidas sobre a posse de armas, muitos países dos Balcãs continuam cheios delas — a maior parte é das guerras dos anos 1990, embora algumas datem até mesmo da Primeira Guerra Mundial (1914-18). Mas tiroteios em massa são raros no pequeno país, que tem pouco mais de 620 mil habitantes.
Em 2022, um homem assassinou dez moradores de Cetinje, incluindo duas crianças, em plena luz do dia antes de ser morto, em um dos incidentes mais mortais que abalaram o país.