Sáb, 06 de Dezembro

Logo Folha de Pernambuco
VATICANO

Conclave: Quais são as características que os cardeais procuram em um novo papa?

Conjunto de virtudes foram destacadas ao fim da última reunião de Congregação Geral, na terça-feira

Cardeias em missa pré-conclaveCardeias em missa pré-conclave - Foto: Vatican Media/divulgação/AFP

Embora as deliberações do conclave aconteçam a portas fechadas na Capela Sistina, os cardeais reunidos no Vaticano deixaram algumas pistas sobre o perfil que procuram em um próximo Papa. Algumas das características foram mencionadas pelo Gabinete de Imprensa da Santa Sé ao fim da Congregação Geral realizada na terça-feira — a 12ª e última antes do início do conclave.

"O debate centrou-se nas reformas do Papa Francisco, que precisam ser levadas adiante: legislação sobre abusos, questões econômicas, a Cúria Romana, sinodalidade, trabalho pela paz e cuidado com a criação", explicou o secretário de imprensa do Vaticano, Matteo Bruni, a jornalistas na terça-feira.

Avançar reformas de Francisco
O anúncio de Bruni sobre a reunião revela uma primeira característica que deve estar na cabeça dos cardeais ao início dos debates a portas fechadas: a continuidade do trabalho iniciado pelo Pontífice argentino. Francisco, considerado um reformista e progressista dentro do catolicismo, promoveu uma visão de uma Igreja menos hierarquizada e mais próxima ao povo, envolvida com temas do cotidiano.

Pragmaticamente, a ideia de que um Pontífice de "continuidade" é lógica, uma vez que Francisco indicou 108 dos cardeais que votarão no atual conclave, o que dificulta a hipótese de uma ruptura muito abrupta da linha atual. Apesar do cenário potencialmente favorecer cardeais com perfil progressista, não há um herdeiro direto e evidente de Francisco.

'Construtor de pontes'
Ao comentar sobre a discussão do tema da comunhão durante a última Congregação, Bruni disse que os cardeais enfatizaram um chamado para que o novo Papa seja "um construtor de pontes". A ideia vai de acordo com o que alguns vaticanistas listaram como uma preocupação do posicionamento da Santa Sé em um mundo tomado por conflitos e disputas entre as nações. Quando da avaliação do perfil dos pontificáveis, muitos analistas apontaram que o secretário de Estado do Vaticano, Pietro Parolin, teria como um ponto forte sua experiência diplomática.

'Pastor'
Em contrapartida, um ponto apontado como deficiente na candidatura de Parolin foi sua falta de experiência a frente das atividades paroquiais — que ainda de acordo com Bruni foi mencionado como um ponto importante a ser avaliado na escolha do novo Papa. A expectativa é de que o novo líder da Igreja tenha capacidade de entender e tomar medidas observando o rebanho de fiéis. Dentro dessa perspectiva, os mais beneficiados seriam cardeais com histórico a frente de paróquias e dioceses e trabalho pastoral.

'Rosto de uma Igreja Samaritana'
Não é apenas a experiência diante dos fiéis que conta para a escolha do Pontífice. Os cardeais indicaram também que o novo Vigário de Roma deve ser capaz de ser o "rosto de uma Igreja Samaritana", ou seja, preocupada com o cuidado dos mais necessitados, em que se destacam valores como compaixão, solidariedade e ação social. É uma característica que também foi muito enfatizada durante os anos de Francisco.

 

Papa da misericórdia, sinodalidade e esperança
Um último ponto destacado por Bruni sobre o debate da Congregação Geral na terça diz respeito à cultura da paz. De acordo com o secretário, "afirmou-se que há necessidade de um Papa da misericórdia, sinodalidade e esperança", em um tempo marcado por "guerra, violência e polarização profunda".

Alguns dos cardeais atuaram como mediadores da Santa Sé em contextos diversos de conflito, incluindo as atuais guerras em Gaza e na Ucrânia, mas também em outros contextos de violência e repressão, como no caso da nomeação de bispos na China e das disputas sectárias na África — vivências que provavelmente serão observadas pelos cardeais na hora de votar.

Veja também

Newsletter