Execução de advogado no Centro do RJ: o que se sabe e o que falta esclarecer sobre o crime
Rodrigo Marinho Crespo foi morto próximo à sede da Ordem dos Advogados do Brasil no fim da tarde do dia 26 de fevereiro
No fim da tarde do dia 26 de fevereiro, o advogado Rodrigo Marinho Crespo seguia sua rotina em um dia de trabalho. Na Avenida Marechal Câmara, próximo às sedes da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), do Ministério Público e da Defensoria Pública, ele conversava com uma pessoa ao deixar o escritório para lanchar, como era comum. Em poucos minutos, ele foi executado a tiros à queima-roupa, com pelo menos 18 disparos.
A vítima não teve chance de defesa quando o executor, após horas de monitoramento, desceu de um carro e fez os disparos. Oito dias depois do crime, três suspeitos foram presos. A polícia segue com as investigações, já conseguiu esclarecer parte do crime, mas faltam peças-chave, como o mandante e a motivação. Vejo o que se sabe e o que falta saber sobre o crime:
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Veja o que se sabe até agora sobre o crime:
Quem são os suspeitos identificados e presos?
Os três suspeitos, até o momento, foram presos nesta terça-feira. Cezar Daniel Mondego de Souza, que até então não estava citado no processo, foi encontrado por equipes da Polícia Civil durante a operação para cumprir o mandado de prisão contra ele.
Na manhã do mesmo dia, o cabo da PM Leandro Machado da Silva, de 39 anos, se entregou ao compareceu na sede da Delegacia de Homicídios da Capital (DHC).
Ainda na tarde de terça-feira, Eduardo Sobreira Moraes, de 47 anos, também se entregou na sede da DHC. Ele e Leandro foram alvos da operação um dia antes pela morte do advogado, e, até se entregarem, eram considerados foragidos.
Quem era o advogado?
Formado pela PUC-RJ em 2005, fez especialização em sua área de atuação na Fundação Getúlio Vargas (FGV). Numa rede social, ele escreveu que costumava falar sobre a “regulamentação do mercado brasileiro de jogos lotéricos e registro de apostas. No site do Tribunal de Justiça, ele aparece contratado em processos diversos, principalmente nas áreas de direito imobiliário e do consumidor.
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Qual era o papel de cada um dos suspeitos presos?
Cezar Daniel e Eduardo participaram do monitoramento do advogado. Segundo a polícia, Crespo foi monitorado pelo menos três dias antes do crime e horas antes da execução. O carro que seguiu a vítima de casa até o escritório e ficou parado por cerca de três horas era dirigido por Eduardo.
Segundo a polícia, Leandro foi o responsável por coordenar toda a logística do crime, como encontrar os dois carros usados para monitoramento e para a execução.
A vítima foi seguida?
De acordo com as investigações, o advogado era monitorado a pelo menos três dias antes do crime e no dia da execução. Pela manhã, no dia do assassinato, Eduardo dirigia o carro que seguiu a vítima. Crespo deixou a casa onde morava, na Rua Fonte da Saudade, na Lagoa, Zona Sul do Rio, até o escritório, no Centro da cidade. O suspeito, então, ficou estacionado na Avenida Marechal Câmara entre 11h11 até 14h27.
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Em seguida, o carro em que está Eduardo é substituído por um igual, em modelo e cor. Esse segundo fica em frente ao prédio do escritório do advogado até o momento do crime, que é cometido por volta das 17h15.
Quantos carros foram usados no crime?
Por meio de análise de câmeras de segurança, a polícia identificou que os envolvidos na execução do advogado usaram dois carros iguais, em modelo — Gol — e cor — branca. O primeiro foi usado no monitoramento e, segundo as investigações, era dirigido por Eduardo no dia do crime. O veículo seguiu Crespo desde o momento em que deixou a casa onde morava até o escritório, no Centro da cidade. O advogado estava em um carro de aplicativo, e chegou ao destino às 11h11.
O Gol branco ficou parado na Avenida Marechal Câmara até 14h27. Neste momento, foi substituído pelo outro veículo, onde estava o assassino.
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O segundo veículo ficou no local até o momento do crime, por volta das 17h15. Após os disparos, o executor fugiu no carro.
O que o advogado fazia no momento em que foi morto?
Como de costume, o advogado havia descido para lanchar no fim da tarde, como fazia sempre no mesmo horário. Ele estava acompanhado de seu primo.
Como aconteceu a execução?
O Gol branco em que estava o atirador se aproxima do local onde se encontrava a vítima às 17h15. Crespo está na calçada conversando com outra pessoa, perto de um carro estacionado. O veículo com o assassino se aproxima lentamente e para em fila dupla perto do local onde o advogado está. O atirador espera 50 segundos até descer do carro. O assassino usava um casaco de cor escura e uma touca ninja, para evitar ser reconhecido. A vítima foi alvo de pelo menos 18 disparos.
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O que aconteceu depois da execução?
O atirador volta para o carro que o esperava com a porta aberta e foge. Toda ação dura só 14 segundos.
Aos primeiros disparos, o primo do advogado, que não foi atingido, consegue escapar fugindo pela rua e, mais adiante, volta para a calçada se abrigando perto de um táxi.
‘Assinatura’ de matadores de aluguel
Para o diretor do departamento de Homicídios, Filipe Curi, o crime foi "praticado com requintes de crueldade", à luz do dia, por homens encapuzados, no Centro do Rio. O endereço da execução (ao lado do prédio da OAB) e o número de disparos — 21 à queima-roupa — são "características que revelam uma assinatura de determinado grupo criminoso investigado pela Delegacia de Homicídios, cujos crimes apresentam uma alta complexidade de elucidação".
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O que falta esclarecer:
Quem são os executores do crime?
Câmeras de segurança flagraram um homem encapuzado descendo de um Gol branco para, em seguida, disparar tiros de pistola contra o advogado. Logo após o crime, ele embarca no carro, e o motorista dá a partida no veículo. A polícia tenta identificar os dois suspeitos.
Qual a motivação exata do homicídio?
Testemunhas relataram em depoimentos que o advogado estudava trabalhar para clientes vinculados com jogos de cassino on-line. A polícia tenta saber se isso está ou não relacionado com o assassinato.
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Quem é o mandante da execução?
Ainda não se sabe. A investigação da DHC tenta identificar executores e possível mandante.
A contravenção está ligada ao assassinato?
Segundo a investigação, o PM Leandro Machado da Silva trabalhava na segurança de Vinícius Drummond, filho do falecido bicheiro Luizinho Drummond, patrono da Imperatriz Leopoldinense. Em nota, a defesa de Vinícius afirma que “nunca, jamais, em tempo algum manteve vínculo, seja profissional ou pessoal”.
Onde está o carro usado pelo homem que desceu do automóvel para executar o advogado?
A polícia identificou dois carros clonados e tenta apreender o veículo usado no assassinato. Já o veículo usado para o monitoramento foi encontrado em Maricá, na Região dos Lagos, cinco dias depois do crime.

