Sáb, 06 de Dezembro

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GAZA

Exército israelense e o desafio de tomar a Cidade de Gaza

Ao contrário do restante do território palestino, quase 300.000 habitantes de Gaza nunca deixaram a localidade desde o início do conflito

Soldados do exército israelense tomam posições durante um ataque no coração da cidade palestina de Nablus, na Cisjordânia ocupadaSoldados do exército israelense tomam posições durante um ataque no coração da cidade palestina de Nablus, na Cisjordânia ocupada - Foto: Jaafar Ashtiyeh / AFP / Arquivo

Tomar a Cidade de Gaza, uma área urbana densamente povoada e com milhares de combatentes do Hamas à espreita, será uma operação difícil e com um custo elevado para o Exército israelense, afirmam os especialistas.

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, anunciou a intenção de ampliar as operações militares "para desmantelar os dois últimos redutos do Hamas na Cidade de Gaza e nos campos" de refugiados no centro do território.

A Cidade de Gaza, a mais populosa dos territórios palestinos, tinha mais de 760.000 habitantes antes da guerra, segundo dados oficiais palestinos.

Desde o início da guerra com a ofensiva israelense, a população da cidade provavelmente aumentou, já que os habitantes no norte da Faixa de Gaza se deslocaram para a localidade em busca de refúgio.

A cidade está repleta de campos de deslocados e outros abrigos improvisados, muitos deles instalados nos escombros dos edifícios destruídos pelos bombardeios.

Segundo o ex-general israelense Amir Avivi, que lidera o centro de estudos Fórum Israelense para a Defesa e Segurança, o Exército tem a capacidade de operar nesta área, que ele chama como "bastião" e "o coração do poder do Hamas".

Para Israel, o desafio será, acima de tudo, humanitário, porque o plano de Netanyahu prevê como passo prévio "a evacuação" de Gaza, segundo os poucos detalhes que foram divulgados.

Ao contrário do restante do território palestino, onde quase toda a população teve que se deslocar pelo menos uma vez em 22 meses de guerra, quase 300.000 habitantes da Cidade de Gaza nunca deixaram a localidade desde o início do conflito, disse Avivi à AFP.

Israel tentou levar os civis mais para o sul, para as áreas denominadas "humanitárias", mas não há espaço suficiente para abrigar todas as pessoas.

"Não é possível enviar outro milhão de pessoas para aquela área. Seria uma terrível crise humanitária", avalia Michael Milshtein, um ex-oficial de inteligência militar.

Entre 10.000 e 15.000 combatentes
Israel também quer incentivar os moradores a seguir para o sul da Cidade de Gaza, onde estão localizados seus centros de ajuda humanitária, administrados pela Fundação Humanitária de Gaza (GHF, na sigla em inglês, apoiada por Estados Unidos e Israel). Atualmente há quatro centros, mas o objetivo é alcançar 16.

Contudo, civis morrem todos os dias durante as operações de distribuição de ajuda da GHF, atingidos por tiros israelenses, uma "armadilha mortal", segundo a Human Rights Watch (HRW), e uma militarização intolerável da ajuda, segundo a ONU e várias ONGs, que se recusam a trabalhar com a GHF.

Michael Milshtein, que coordena o programa de estudos palestinos na Universidade de Tel Aviv, calcula que o braço militar do Hamas pode ter entre 10.000 e 15.000 combatentes na Cidade de Gaza, muitos deles recrutados recentemente.

"Os jovens palestinos hoje não têm trabalho, educação, nem escola, então é muito fácil convencer um palestino de 17, 18 ou 19 anos a entrar para as Brigadas al Qasam", o braço armado do Hamas.

A Cidade de Gaza é, há muitos anos, a sede do poder do Hamas, que assumiu o controle do território palestino em 2007, e possui milhares de militantes e membros de suas estruturas políticas, civis, sociais e religiosas, aponta Milshtein.

O Exército espera encontrar uma vasta rede de túneis, onde provavelmente são mantidos os reféns sequestrados em 7 de outubro de 2023, assim como depósitos de armas, esconderijos e postos de combate.

Também terá que enfrentar artefatos explosivos e o uso de civis como escudos humanos, em uma zona urbana densa, com becos estreitos e prédios altos.

Milshtein lembra a oposição do comandante do Estado-Maior de Israel, Eyal Zamir, ao plano de Netanyahu devido ao custo humano para seus soldados.

"É quase impossível não provocar, ao mesmo tempo, vítimas entre os reféns e uma grande catástrofe humanitária", alerta Mairav Zonszein, do 'International Crisis Group' (ICG). "Simplesmente vão destruir tudo e depois não vai restar nada", adverte.

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