O hobby impensável que melhora a concentração e a criatividade
Atividade afasta pensamentos negativos, convida à introspecção e promove a empatia
Cientistas afirmam que a cerâmica foi criada de maneira espontânea e simultânea por diferentes civilizações ao redor do mundo. A peça mais antiga, localizada na caverna de Xianrendong, na província de Jiangxi, China, data de entre 20 mil e 19 mil anos atrás.
Um pouco mais recentes (com aproximadamente 13 mil anos), as vasilhas do período Jōmon do Japão também revelam como esses objetos acompanharam os seres humanos desde a pré-história.
No início da tradição, foi descoberto que o barro endurecia ao ser exposto ao fogo. Então, durante o período neolítico, também conhecido como "Idade da Pedra", começaram a ser criadas peças com fins culinários, e na Mesopotâmia surgiram as primeiras formas não utilitárias. O termo “cerâmica” vem do grego keramos, que significa “arte de trabalhar o barro”.
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Dani Mazzei nasceu em Buenos Aires e estudou publicidade. Trabalhou por cinco anos em uma agência de marketing digital até decidir seguir seus sonhos. Em 2015, fundou a Pangea Cerámicas, após se formar no Instituto de Ceramologia Condorhuasi — um empreendimento que lhe permite expandir sua criatividade.
Começou literalmente em uma garagem, até que, atendendo a pedidos, passou a oferecer oficinas para o público. Hoje, essa atividade ocupa todo o seu tempo. De onde vem o fascínio pela cerâmica?
— Vivemos tempos em que a ansiedade, a incerteza e o ritmo frenético do dia a dia nos esgotam. Encontrar um momento para extravasar e recarregar as energias às vezes é difícil, mas fundamental para manter o equilíbrio. Em uma prática como essa, o mundo exterior para, e o aqui e agora se tornam o mais importante, permitindo que a arte e a criatividade falem por si só — explica.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) emitiu, em 2024, um relatório recomendando a prática da cerâmica como uma alternativa diária para melhorar a qualidade de vida. Segundo o documento, trata-se de uma atividade que promove a empatia e a compreensão — duas condições essenciais para fortalecer a consciência e a saúde comunitária.
— Fui para acompanhar uma amiga que não queria ir sozinha. Ela desistiu e eu continuei. No começo me envolvi para aprender o básico, mas, aos poucos, fui me aventurando mais, à medida que ganhei confiança. Uma vez por mês, organizo um encontro em casa com amigas e conhecidas, e coloco à venda as peças que faço, porque produzo tanto que não consigo guardar tudo. Conquistei um novo círculo social, percebi que posso continuar aprendendo e que a imaginação não se apaga com a idade se a deixarmos emergir — revela Margarita C, de 74 anos, praticante há uma década.
Especialistas da OMS indicaram no relatório que a cerâmica melhora a concentração, porque exige atenção constante. “A necessidade de focar na tarefa exige deixar de lado outras distrações mentais, o que afasta os pensamentos negativos", explica Sendaia Laiol, neurocientista especializada na pesquisa do lazer na Universidade da Califórnia.
— Esse exercício ajuda a compensar o estresse. Em uma realidade hiper estimulada como a era das telas, a cerâmica nos desconecta desse processo e convida à introspecção, oferecendo uma oportunidade meditativa no cotidiano — completa Laiol.
Luna tem 11 anos. Sua mãe, Alba, queria reunir algumas ideias: uma atividade em grupo, que fosse criativa, não muito física e voltada ao trabalho manual. Foi assim que a cerâmica entrou na vida da filha. “Luna se apaixonou", conta Alba.
— Ela quer começar a fazer colares próprios. Agora é comum vê-la passar horas no quarto criando suas peças, longe das telas. Inclusive, melhorou seu relacionamento com os aparelhos, porque costuma usar o celular para buscar tutoriais ou modelos que a inspirem — compartilha a mãe.
— Um momento a sós é algo de que muitos de nós precisamos. Longe das preocupações, do estresse, da correria. Uma pausa para desacelerar, clarear a mente e se conectar com o presente. Mas não se trata apenas disso — continua Alba. — A cerâmica também é uma fonte de bem-estar emocional.
Ela acrescenta que a prática é uma forma de terapia criativa, pois ao trabalhar com as mãos e ver as ideias ganharem forma, há uma sensação de realização e satisfação, promovendo autoexpressão e equilíbrio emocional. Segundo Laiol. esta é uma atividade para todas as idades, porque há estímulo cognitivo e manual.
— Aprender novas técnicas e experimentar materiais estimula o cérebro e desenvolve habilidades motoras finas. Esse tipo de atividade não só melhora a concentração, como também ativa a criatividade e a capacidade de resolver problemas — conclui.
A OMS acrescenta que a cerâmica também estimula a paciência e a persistência — duas qualidades em extinção em um mundo excessivamente acelerado. Além disso, propõe a criação de metas de longo prazo: esperar secar, esperar assar… Um exercício útil para reaprender a respeitar o tempo.

