Pontos turísticos ganham "subprefeitos" próprios; saiba como vai funcionar
Projeto-piloto visa melhorar a acessibilidade e a infraestrutura dessas áreas
O chafariz em frente ao Pão de Açúcar está parado, as placas que indicam que é proibido estacionar na Praça São Judas Tadeu, próxima ao Corcovado, no Cosme Velho, sumiram ou as calçadas do Boulevard Olímpico apareceram com desníveis? O jeito, como diria a canção “W/Brasil”, gravada por Jorge Ben Jor, é chamar o “síndico”.
Assim são batizados informalmente pela própria prefeitura dez funcionários da Secretaria municipal de Turismo que circulam dia a dia pelos acessos de alguns dos principais cartões-postais da cidade em um projeto-piloto para melhorar a acessibilidade e a infraestrutura dessas áreas.
As falhas são identificadas pelas equipes, chamadas formalmente de Gestores Locais de Áreas Turísticas (G-Turs), que pedem prioridades aos órgãos públicos para revertê-las.
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Implantado há seis meses, o programa atende cinco áreas da cidade (Corcovado/Trenzinho, Lapa, Orla Conde, Pão de Açúcar e Escadaria Selarón) e pode vir a ser expandido no futuro.
Em todos os pontos, a equipe monta um dossiê mostrando o “antes” e o “depois” de cada região. Em frente ao Pão de Açúcar, por exemplo, a faixa de pedestres foi repintada, e a presença constante de um ônibus da Guarda Municipal reduziu a abordagem de ambulantes aos turistas que aguardam na fila de acesso.
"Claro que tem situações que podem demorar mais para encontrar solução. Mas já trouxe resultados", diz a secretária municipal de Turismo, Daniela Maia.
Novo padrão para o Cristo
Ponto turístico que em 2023 atraiu mais de um milhão de pessoas apenas no primeiro semestre, o acesso ao Cristo Redentor terá mudanças que surgiram de uma conversa entre os ‘‘síndicos’’ e o padre Omar Raposo, reitor do Santuário.
A CET-Rio começou a fabricar placas de sinalização padronizando a forma como o monumento é identificado. Hoje, boa parte das indicações no caminho direcionam os visitantes para o “Corcovado”. Com a alteração, serão 42 placas novas em inglês e em português com a identificação ‘‘Cristo Redentor e ‘‘Christ The Redeemer”.
A equipe da prefeitura também atua no entorno da estação do trenzinho do Corcovado, no Cosme Velho. Lá, foram implantadas rampas de acesso para cadeirantes nas esquinas próximas à entrada.
Já a Praça São Judas Tadeu teve a calçada em pedras portuguesas recuperada. Repórteres do GLOBO estiveram no local numa sexta-feira minutos antes da abertura da estação, quando a Guarda Municipal não tinha chegado. O reordenamento proposto para os veículos com turistas era respeitado. Micro-ônibus, carros de aplicativos e táxis paravam nas áreas demarcadas.
Banho de loja no Pão de Açúcar
No Pão de Açúcar, os arredores ganharam uma atenção especial, mas ainda há muito o que fazer. O vandalismo é um dos desafios. Mesmo com a presença de militares na região por causa da existência de várias instalações das Forças Armadas, parte das lamparinas no entorno da Praça General Tibúrcio já teve que ser substituída pelo menos duas vezes porque houve depredação por jovens que brincavam de tiro ao alvo com pedras portuguesas. No local, o chafariz foi recuperado e religado.
Mas ainda existem problemas em busca de solução. Um deles é a grande quantidade de ônibus e vans de excursão que estacionam nas pistas laterais da Avenida Venceslau Brás e permanecem ali quase o dia todo.
"Realmente isso é um problema antigo. Nós estamos em busca de um local que possa servir de bolsão de estacionamento. Devemos resolver em breve", diz Daniela Maia.
A fiscalização mais intensa ainda não eliminou irregularidades na vizinha Praia Vermelha. Em um dos últimos dias de calorão no Rio, ambulantes anunciavam sorvete a R$10 com um alto-falante.
A atuação das equipes do G-Tur se concentra na intensificação da limpeza e na recuperação do calçamento em pedra portuguesa nas proximidades dos Arcos da Lapa.
Mas essas intervenções esbarram na percepção dos turistas, principalmente os estrangeiros, de que a região não seria um local seguro para frequentar nem durante o dia.
"Não me senti segura. Saí rapidamente. Tem muita gente abordando turistas, pedindo dinheiro. Com medo de ser assaltada, fiquei muito pouco tempo por lá", contou a chilena Yolanda Carter Steo, 62 anos, que mora na capital Santiago.
Visitante frequente do Rio, o comerciante paulista Jaime Coelho, de 30 anos, tem uma avaliação diferente de Yolanda:
"Em São Paulo também há moradores de rua nos locais que frequento. A gente só precisa ficar atento. Gosto muito dos barezinhos e restaurantes da Lapa à noite", disse.
Daniela Maia, por sua vez, afirma que busca parcerias com empresas para tentar treinar e absorver parte desses moradores de rua em atividades ligadas ao turismo.
Calçadas em obras e calor
Revitalizada pelo projeto Porto Maravilha nos preparativos para a Copa e a Olimpíada, a Orla Conde é uma das áreas em melhor estado de conservação do Rio.
Mesmo assim, os problemas existem, principalmente de manutenção. Ao longo das semanas, os Gestores Locais de Áreas Turísticas fizeram múltiplos relatórios sobre bueiros desnivelados e falhas na região.
Entre as áreas com mais problemas, apontam o trecho entre o prédio da Polícia Federal e os galpões restaurados da Avenida Rodrigues Alves, onde existe uma espécie de rua de serviço em que passam carros. No local, uma equipe do GLOBO contou pelo menos seis pontos com falhas na calçada. Já na Praça Mauá, trechos do piso danificado estavam sendo trocados.
Mas ainda há outro obstáculo que independe dos fiscais. Sob forte calor, poucos turistas se arriscam a fazer uma caminhada por longos trechos, como do Museu do Amanhã à roda-gigante Yup Star.
"O lugar é bonito, mas árido. Devia ter mais árvores", opinou o turista cearense João da Fonseca, de 42 anos.
Selarón pode ser o Soho carioca
Ambulantes se misturam a turistas. Estacionar é difícil, e os carros e vans se multiplicam nas calçadas e no entorno. E não há rampa para facilitar o acesso de deficientes físicos.
São questões que levam a secretária municipal de Turismo, Daniela Maia, a dizer que a multicolorida Escadaria Selarón, que liga a Lapa a Santa Teresa, é o grande desafio dessa fase do programa piloto do G-Turs. Um plano com a participação de vários órgãos é desenhado para começar a ser aplicado ainda neste fim de ano no local:
"A Selarón é um marco de expressão artística que pode influir no entorno. Aquela área tem tudo para se transformar no Soho carioca", comparou Daniela, citando o bairro de Nova York conhecido não só pelas butiques de luxo, mas pelos ambulantes que vendem de joias a obras de arte.
Um dos pontos em análise está com o Instituto Rio Patrimônio da Humanidade (IRPH), já que o espaço é tombado. Técnicos da prefeitura analisam se é possível, por exemplo, instalar rampas para deficientes. Em outra frente, a CET-Rio estuda alternativas para reorganizar o embarque e o desembarque:
"Para mim, um dos principais problemas é a falta de sinalização indicativa para quem vem por conta própria. Mas o espaço é lindo", diz o turista português Thiago Macedo, que visitou o local com a mulher, a britânica Chevidi Kishazy.

