Quem é Rafael Caro Quintero, 'narco dos narcos' deportado pelo México aos EUA
Atualmente com 72 anos, Quintero é um dos nomes mais procurados pelos EUA ao redor do mundo
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Era março de 1985 quando o corpo de Enrique "Kiki" Camarena, um americano de origem mexicana, foi encontrado com sinais de tortura em uma vala comum no México.
Funcionário da Drug Enforcement Administration (DEA), agência do governo americano de combate ao tráfico de drogas, Kiki havia se infiltrado no pujante mundo dos cartéis mexicanos entre 1982 e 1984, sendo apontado como um dos responsáveis por uma ação que levou à destruição de 2.500 hectares de maconha de propriedade de Rafael Caro Quintero.
Apelidado de "narco dos narcos", Quintero foi condenado por planejar e ordenar a morte do agente americano, o que o transformou em um dos principais alvos de Washington por décadas. Na quinta-feira, ele foi incluído na lista de 29 prisioneiros mexicanos extraditados para os EUA.
Quintero começou a cultivar cannabis em sua terra natal, Badiraguato, no estado de Sinaloa, aos 14 anos. A região também é berço de outro famoso traficante de drogas mexicano, Joaquín "El Chapo" Guzmán, que atualmente cumpre pena d eprisão perpétua nos EUA. Assim como outros líderes de cartéis mexicanos, ele justificou sua atuação criminosa como resultado da pobreza e da falta de oportunidades no país.
— Eu era órfão, meu pai morreu, tinha 14 anos e tinha que alimentar meus irmãos, foi assim que tudo começou — disse Quintero em uma entrevista à revista mexicana Proceso, em 2016, ao justificar sua incursão no cultivo de maconha e papoula, matéria-prima da heroína.
No final da década de 1970, Quintero aliou-se a Miguel Ángel Félix Gallardo e Ernesto Fonseca Carrillo para fundar o cartel de Guadalajara, também conhecido como A Federação, um dos pioneiros do tráfico no México.
Sua capacidade de fazer negócios e movimentar-se no submundo tornaram-no o maior exportador mexicano de maconha, com fortuna estimada em cerca de 500 milhões de dólares. Também levou o cartel a expandir seu negócio para a cocaína, graças a acordos com o colombiano Pablo Escobar.
Famoso por seu gosto particular por joias e roupas finas, Quintero viu o cerco se fechar contra ele após a morte de Kiki Camarena, que expôs e provocou a destruição de uma de suas plantações, no Rancho Búfalo, em Chihuahua, norte do México.
O traficante sempre negou ter encomendado a execução, considerada pelo DEA como o caso "mais doloroso" de sua História — que criou rusgas na relação entre os dois países, sendo apontado por analistas como um catalisador que impulsionou a polícia americana mais profundamente na guerra contra os cartéis mexicanos.
— Eu não o sequestrei, não o torturei e não o matei — disse na entrevista à Proceso.
Quintero foi preso em abril de 1985 na Costa Rica. Condenado a 40 anos de prisão pela justiça mexicana, ele foi libertado por uma tecnicalidade legal em 2013, evadindo-se para a zona rural de Sinaloa. Ele foi recapturado pelas autoridades mexicanas perto de San Simón, em 2022.
Poucas horas depois da detenção, um helicóptero militar caiu fora da cidade vizinha de Los Mochis, matando 14 fuzileiros mexicanos — que o presidente mexicano na época, Andrés Manuel López Obrador, disse serem as tropas mortas envolvidas na missão de capturar o antigo chefe do crime.
Quintero está sob indiciamento por várias acusações de tráfico de drogas no Tribunal Distrital Federal no Brooklyn desde 2020. Ele pode comparecer perante a justiça federal americana já nesta sexta-feira, segundo uma fonte ouvida pelo New York Times.
Extradição de presos
México e EUA anunciaram a extradição de 29 integrantes de cartéis mexicanos procurados pela justiça americana para Washington na quinta-feira, e que chegaram a um acordo sobre a adoção de “ações coordenadas” contra o narcotráfico, "com o objetivo central de reduzir as mortes em ambos os países devido ao consumo de fentanil ilegal e ao uso de armas de fogo traficadas ilegalmente”.
— Como o presidente Trump deixou claro, os cartéis são grupos terroristas, e este Departamento de Justiça é dedicado a destruir cartéis e gangues transnacionais — disse a nova chefe do departamento, Pam Bondi.
— Processaremos esses criminosos com toda a extensão da lei em homenagem aos bravos agentes que dedicaram suas carreiras — e, em alguns casos, deram suas vidas — para proteger pessoas inocentes do flagelo dos cartéis violentos.
Além de Quintero, outros nomes importantes do crime mexicano foram incluídos na lista de extraditados. É o caso de Miguel Ángel Treviño Morales, ex-líder do cartel Zetas preso em 2013, visto como um dos agentes de cartéis mais violentos do México, tendo ajudado a aperfeiçoar a prática de usar a carnificina como mensagem.
Sua organização foi fundada por comandos mexicanos altamente treinados e fortemente armados que inicialmente receberam a tarefa de perseguir as gangues, mas no final venderam seus serviços para uma organização em particular, o cartel do Golfo.
Depois de riquezas — e intenso derramamento de sangue — seguidos, os Zetas passaram a operar por conta própria e acabaram se tornando uma das organizações criminosas mais poderosas e temidas do México.

