Tradição x modernidade: historiadora analisa os dois tipos de festas de São João
Marco da cultura nordestina, o período junino é comemorado com símbolos tradicionais e grandes shows
Tradição e modernidade. Essas duas palavras antagônicas convivem neste período junino. As tradições herdadas a partir da colonização portuguesa passaram por transformações e adições ao longo dos séculos para formar a festa de São João.
Entretanto, os símbolos considerados como tradicionais convivem disputam espaços com a cultura de grandes shows nos principais polos.
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Será que é possível manter o São João "raiz", ao mesmo tempo em que mega eventos são promovidos e aquecem a economia popular e cultural? A Folha de Pernambuco abordou este tema com a historiadora e pesquisadora, Carmem Lélis.
O que é tradicional?
Primeiro, é importante destacar os principais pontos que fazem parte do São João, ressaltando que as tradições variam em cada região do Brasil.
No Nordeste, é possível colocar alguns símbolos como característicos do período junino: o milho, a fogueira, a quadrilha, o forró, além das decorações com tecidos e bandeirinhas.
Fogueira é um dos símbolos tradicionais do São João do Nordeste. Foto: Rafael Lima/PMC.De acordo com a historiadora, que também é assessora técnica de política cultural da Secretaria de Cultura do Recife, é difícil definir o momento histórico em que esses símbolos passaram a ser considerados tradicionais.
“É como parte mesmo da cristianização, do processo de catequese e da colonização que esses símbolos católicos que se configuram como tradicionais”, explicou.
A especialista complementa ressaltando que essas tradições são mantidas pela relação e caráter rural.
"É uma festa que vem da região rural, tem uma relação profunda com o nosso nosso interior e, portanto, elas se mantêm, mesmo quando são tratadas urbanamente, elas têm um caráter que vem da Zona Rural. Então, são tradições que trazem muito da nossa identidade de brasileiro mesmo. De quem vem do interior, independente de ser ou estar nas capitais", analisou Carmem Lélis.
Celebração moderna
Acender a própria fogueira, decorar a vizinhança e preparar comidas típicas à base de milho. Essa celebração do período junino, realizado de forma mais particular com amigos e familiares, convive atualmente com as grandes festas.
A historiadora define que há, de forma geral, dois tipos de festas no São João nordestino. A primeira é uma festa que a população assimila, repassa e celebra, com foco em manter a tradição.
Do outro lado, tem a festa que é de mercado. E essa relação do mercado está vinculada com interesses comerciais e ao turismo, uma vez que é um dos principais momentos do ano na região para geração de renda formal e informal.
"São dois tipos de comemoração, eles se integram, porém, eles também são diferentes. De alguma forma, eles estão presentes. Um é mais comercial, é mais voltado para o mercado, é mais para a indústria mesmo e para o próprio turismo cultural e o outro é mais celebrativo e mais tradicional", disse.
Convivência
Carmem Lélis entende que é natural o pensamento de que esse São João mais contemporâneo, de alguma forma, pode ferir a tradição. Por exemplo, os grandes shows no Nordeste podem ter artistas que naturalmente não estão vinculados ao forró.
Entretanto, a historiadora acredita que sempre vai ter a relação de trazer elementos considerados tradicionais.
"Essa tradição vai se modificando com o tempo, porque tradição não é algo rígido, como cultura também não é imobilizada, então você tem uma relação de mudança. É comum. Entretanto, existe sempre essa nossa vontade de manter essências e essas essências são mantidas a partir do que a gente chama de forró de pé de serra, da quadrilha junina, da fogueira, da gastronomia e das celebrações que são artístico-religiosas", dissertou.

