Sáb, 06 de Dezembro

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Política

Sentimento anti-Trump impulsiona vitória de esquerda na Austrália

Reeleito, Albanese conquista maioria na Câmara após colapso do bloco conservador liderado por Dutton

Primeiro ministro australiano, Anthony Albanese, ao lado LulaPrimeiro ministro australiano, Anthony Albanese, ao lado Lula - Foto: Ricardo Stuckert/PR

O primeiro-ministro da Austrália, Anthony Albanese, foi reeleito neste sábado (3) e deve garantir a maioria das cadeiras na Câmara dos Representantes, segundo projeções da imprensa local. O Partido Trabalhista superou a coalizão conservadora formada pelos partidos Liberal e Nacional.

A vitória de Albanese é atribuída, em parte, ao chamado “efeito rebote” contra o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Segundo analistas, as políticas comerciais de Trump e a retórica de figuras conservadoras alinhadas a ele, como o opositor Peter Dutton, influenciaram negativamente o eleitorado australiano.

“Trump dominou totalmente a trajetória desta eleição”, afirmou Sean Kelly, colunista político do Sydney Morning Herald, ao citar a instabilidade global provocada pelo ex-presidente dos EUA.

Tarifas 

Durante o governo Trump, os EUA impuseram tarifas de 25% sobre o aço e alumínio da Austrália, seguidas de 10% sobre outros produtos. A medida afetou a economia australiana, gerando descontentamento com líderes locais que se alinharam ao ex-presidente americano.

Peter Dutton, líder do Partido Liberal, foi criticado por suas declarações pró-Trump. Ele chegou a chamá-lo de “grande pensador” e adotou um discurso semelhante ao de Trump em temas como imigração e programas de diversidade.

Com a apuração de 68% dos votos, a Comissão Eleitoral Australiana projetou 81 das 150 cadeiras para o Partido Trabalhista. Dutton reconheceu a derrota, parabenizou Albanese e admitiu a perda de sua própria vaga no Parlamento, que ocupava há 20 anos.

Rejeição

A estratégia conservadora de Dutton, marcada por ataques culturais e recuos em propostas, enfrentou resistência. Analistas destacam que o ex-ministro da Defesa tentou emular Trump, mas acabou rejeitado. A campanha foi marcada por gafes e mudanças de posição que enfraqueceram sua imagem.

“Não nos saímos bem o suficiente. Aceito total responsabilidade”, disse Dutton após o resultado.

O senador liberal James Paterson admitiu que o “fator Trump” teve impacto significativo, como já havia ocorrido no Canadá. “Foi devastador para os conservadores lá, e acho que foi um fator aqui também”, afirmou à ABC.

Equilíbrio 

Apesar das críticas às tarifas, Albanese manteve posição cautelosa em relação aos EUA. Sua resposta mais dura foi chamar as medidas de “ato não-amigável”. Isso reflete a dependência australiana da aliança militar com Washington, mesmo com a China sendo seu maior parceiro comercial.

Ambos os candidatos defenderam o acordo para compra de submarinos nucleares dos EUA, como forma de conter a expansão militar chinesa. O desafio, segundo analistas, será manter o equilíbrio entre os interesses de segurança com os EUA e os laços econômicos com Pequim.

“O maior desafio será gerenciar o triângulo estratégico entre Washington, Pequim e Canberra”, avaliou Michael Fullilove, diretor do Lowy Institute.

Perfil 

Mesmo enfrentando queda nas pesquisas após a derrota do referendo sobre representação indígena em 2023, Albanese manteve sua imagem de líder moderado e discreto — um contraponto ao estilo confrontador da era Trump e da política australiana durante a pandemia.

“Ele identificou que os eleitores estavam cansados de conflitos”, afirmou Sean Kelly. “Não é um grande orador, mas soube usar isso a seu favor.”

Albanese agora enfrenta desafios domésticos como a crise de moradia e o alto custo de vida, além de precisar navegar em um cenário internacional complexo, marcado por tensões entre as duas maiores potências globais.

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