Shor diz que Martins usou 'artimanha' para evitar monitoramento de seus deslocamentos em Brasília
O delegado da PF disse ao STF que ex-assessor de Bolsonaro deixou celular em casa enquanto foi para reuniões golpistas no Alvorada
O delegado da Polícia Federal Fabio Shor, que atuou em inquéritos que envolvem o ex-presidente Jair Bolsonaro, depôs nesta segunda-feira no Supremo Tribunal Federal ( STF) no âmbito da ação penal da trama golpista.
Leia também
• Delegado atacado por Eduardo Bolsonaro presta depoimento sobre golpe ao STF
• Em carta a ministros do STF, Celso de Mello diz que Trump e bolsonaristas são 'indignos'
Em duas horas de oitiva, o delegado reiterou aos advogados de defesa de Filipe Martins informações do relatório da PF sobre a participação do ex-assessor de Bolsonaro em reuniões nas quais foi discutida a chamada minuta do golpe, em 2022.
Disse, também, que Martins usou uma 'artimanha' para não ser localizado nas investigações.
O delegado tem sido atacado por bolsonaristas e foi chamado de "cachorrinho da Polícia Federal" pelo deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) no último domingo.
Os advogados Jeffrey Chiquini e Ricardo Scheiffer questionaram reiteradamente o porquê de a Polícia Federal não ter usado em seu relatório as informações das chamadas Estações Rádio-Base (ERBs), da localização do celular, de Filipe Martins, relativas ao trimestre final de 2022.
O delegado relatou que a localização das ERBs referentes ao celular de Martins ficou imóvel na casa do ex-assessor, mas que a PF confirmou que Martins se locomovia por Brasília por meio de dados aplicativos de transporte, inclusive tendo ido ao Palácio da Alvorada para participar de reuniões nas quais se discutiu a elaboração da minuta do golpe.
— Martins, bem como outros integrantes da organização criminosa (da trama golpista), utilizou uma artimanha. A ERB dele ficou presa, enquanto ele se deslocava — disse Shor.
O delegado afirmou que a PF usou dados fornecidos pelo aplicativo de transporte Uber fornecidos pelo próprio app e pela defesa de Martins, além dos dados de ERB do padre José Eduardo de Oliveira e Silva, que acompanhou Martins a uma das reuniões no Alvorada.
A PF também usou dados de entrada e saída da portaria do Alvorada, fornecidos peo Gabinete de Segurança Institucional (GSI).
O delegado da PF reiterou que Martins esteve no Alvorada em pelo menos duas ocasiões: no dia 19 de novembro de 2022, para participar de uma reunião com Bolsonaro para fazer ajustes na minuta golpista, e no dia 7 de dezembro, quando Bolsonaro teria apresentado aos comandantes das Forças Armadas trechos da minuta que decretaria Estado de Defesa.
Viagem aos Estados Unidos
Os advogados de Martins buscaram explorar, também, o fato de Martins ter sido acusado de fugir para os Estados Unidos na comitiva de Jair Bolsonaro em dezembro de 2022 a despeito de não ter efetivamente viajado.
O ex-assessor ficou preso preventivamente em razão do suposto risco de fuga.
Ao STF, Shor disse que o “contexto de elementos indica que foi forjada a entrada de Martins nos Estados Unidos”.
O delegado citou que Martins alegou que teria tido um passaporte extraviado em 2020 e que “coincidentemente esse mesmo passaporte foi utilizado pra fazer registro de entrada nos Estados Unidos, na mesma cidade, na mesma data, no mesmo momento que a comitiva presidencial” de Bolsonaro. Martins também teria registrado como local de hospedagem o mesmo endereço do restante da comitiva de Bolsonaro.

