Alexandre Nero sobre a perda dos pais na adolescência: "Dormia com a morte, a vida não tinha valor"
Em entrevista à jornalista Maria Fortuna no videocast 'Conversa vai, conversa vem', o ator lembrou a revolta diante da tragédia: 'Queria agredir, chocar o mundo'
Alexandre Nero perdeu os pais para o câncer no intervalo de dois anos. Aos 14, ficou sem a mãe; aos 17, o pai se foi.
Totalmente órfão na vida, o menino viveu feito 'nômade', se jogando de um lado para o outro e dependendo da caridade de tios e outros familiares.
Em entrevista à jornalista Maria Fortuna no "Conversa vai, conversa vem", videocast do Jornal O Globo, que está no ar no Youtube, ele lembra a revolta que sentiu diante das sucessivas tragédias.
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Leia abaixo:
Sua mãe morreu de câncer quando você tinha 14 anos; seu pai, quando tinha 16, da mesma doença. Carregou uma revolta? É possível acreditar em Deus diante dessa tragédia?
Descobrir na análise que o que se passou comigo foi um trauma. Foi uma tragédia, uma sacanagem um: "Deus, vá para a puta que pariu! Isso não se faz. Deus é o caralho! Se você existe, vem aqui embaixo que quero te dar na cara". Meus filhos aliviaram bastante isso em mim, não tenho mais raiva do passado. Essa revolta, essa "que injustiça que o mundo fez comigo" eu já não tenho mais". Fiz as pazes. Nem estou falando de Deus, mas da vida. Fui um cara que queria a vingança, maltratar o mundo. Queria me maltratar, me autoflagelava inconscientemente. Eu tinha certeza que ia morrer de câncer, a vida para mim não tinha valor, podia matar ou morrer.
E flertou com a morte em vários momentos, bebendo, usando drogas...
O tempo inteiro. Eu dormia com a morte. Convivi com ela durante minha adolescência inteira, era minha íntima. Falei: "Bicho... vou morrer, agora, o próximo sou eu. Não só eu, como qualquer pessoa que eu ame. Então, vou morrer e vou matar qualquer um, foda-se". Vivia na noite, essa foi minha vida. Tudo que eu fazia era muito agressivo, queria chocar o mundo. As peças... Todo mundo pelado! As músicas punks. Pensava: "As crianças têm que ver tudo mesmo". Queria agredir o mundo. Com a chegada dos meus filhos, a vida me deu uma rasteira. Fui trocando a morte pela vida. Tinha esquecido meus pais por defesa, e eles começaram a aparecer por causa dos meus filhos.
Como assim, em sonho?
Na cara deles. Olho para o meu filho e vejo meu pai. No jeito que ele faz. Falo: "Caralho, meu pai fazia isso". Vejo meu pai em mim, eu envelhecendo. Minha mulher fazendo carinho no meu filho e penso: "Minha mãe fazia isso em mim". Comecei a lembrar coisas que tinha esquecido. Descobri que trauma não se cura, convive. É uma dor, um choro eterno. Meu filho pede para ver foto do vovô. Isso me trava. Ainda não mostrei. O dia que eu mostrar, periga eu chorar. É muito terrível. Eu tenho explosões, meu pai tinha. Tive explosões com meu filho e falei: "Esse é meu pai, não vou fazer isso".
Como é ser pai de Noá, de 9 anos, e Inã, de 6, não tendo tido pai a maior parte da vida?
Não tive essa educação de pai, não tive ninguém com quem entender isso, referência. Fui aprendendo e comecei a flertar com a vida. Para mim, que tanto fazia morrer, agora não podia mais morrer. Ninguém mais vai morrer. Acabou! Ninguém mais morre, e eu também não vou morrer.

