Espetáculo "Sagração", de Deborah Colker, sobe ao palco do Teatro Guararapes
Adaptação de "A Sagração da Primavera" busca inspiração na cosmovisão dos povos originários
Deborah Colker traz sua companhia para dançar novamente em solo pernambucano. Desta vez, a premiada coreógrafa apresenta “Sagração”, espetáculo ainda inédito no estado, que sobe nesta terça-feira (7) ao palco do Teatro Guararapes, às 20h30.
A montagem, que estreou em 2024 no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, é livremente inspirada em “A Sagração da Primavera”, composição de Igor Stravinsky, que ganhou o mundo através do balé originalmente coreografado por Vaslav Nijinsky e lançado em 1913. Segundo Colker, o desejo de adaptar essa obra a acompanha desde que ela começou a pensar em ser coreógrafa.
“Eu sabia que chegaria o momento em que eu teria que me debruçar sobre esse grande clássico, e logo depois da estreia de ‘Cura’, em 2021, senti que tinha chegado a hora de partir para esse desafio”, afirmou a artista, em entrevista à Folha de Pernambuco.
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Instigada pelo caráter inovador da obra original, Deborah Colker decidiu recontá-la por um viés diferente, construindo uma ponte entre camponeses russos e povo originários brasileiros. “Stravinsky foi um artista de ruptura, que mexeu na estrutura da música e abriu caminhos inéditos. Eu quis seguir esse gesto, mas trazendo para o nosso contexto, para o Brasil de antes de 1500, para o nosso primitivo”, contou.
Nascido de um processo criativo que durou dois anos, “Sagração” está ancorado em visões ancestrais sobre a origem do mundo. Um dos principais materiais de pesquisa para a artista veio de uma viagem ao Xingu, durante Kuarup, ritual fúnebre realizado por diversas etnias indígenas.
“Ali entendi que a ancestralidade não é passado distante, mas presença viva, que nos chama a pensar como queremos continuar a existir. Essa experiência me fez compreender que a dança pode ser rito, memória e modo de existir, e foi decisiva para que ‘Sagração’ se tornasse essa fusão entre o clássico e o nosso Brasil”, explicou.
A experiência marcou ainda o encontro entre Deborah e o cineasta Takumã Kuikuro, que apresentou a ela o mito indígena do Urubu Rei, que trouxe o fogo ao povo do chão. Dançada pela companhia, a história recebeu narração do próprio Takumã no espetáculo.
Outras cosmovisões ajudaram a coreógrafa a compor a montagem. Com a assessoria de Nilton Bonder, ela revisitou a mitologia judaico-cristã, oferecendo novas visões para as passagens bíblicas de Adão e Eva e de Abraão. Além disso, a literatura científica trouxe referências sobre as teorias da evolução da espécie humana. “Essa sobreposição de cosmogonias cria uma dramaturgia que pensa o passado, o presente e o futuro da vida no planeta”, disse.
Alexandre Elias, diretor musical do espetáculo, introduziu à partitura instrumental de Stravinsky a sonoridade das florestas e os ritmos brasileiros, como coco, samba e afoxé. Flauta de madeira, maracá, caxixi e tambores se unem aos acordes dos instrumentos típicos de orquestras.
Segundo a Colker, “Sagração” está diretamente ligada a “Cão sem Plumas” (2017) e “Cura” (2021), suas produções anteriores. “São três capítulos de uma mesma investigação. Juntos, os espetáculos formam uma trilogia primitiva, ancestral e reflexiva, que atravessa território, corpo e espiritualidade”, apontou.
Ao dançar a poesia de João Cabral de Melo Neto, em “Cão sem Plumas”, a coreógrafa estreitou seus laços com Pernambuco, que ela reencontra na turnê da nova montagem. “É como fechar um ciclo: depois de falar da lama do Capibaribe, volto para compartilhar uma obra que fala das nossas origens, da ancestralidade e da continuidade da vida”, pontua.
Serviço:
Espetáculo “Sagração”
Quando: nesta terça-feira (7), às 20h30
Onde: Teatro Guararapes (Centro de Convenções de Pernambuco - Av. Prof. Andrade Bezerra, s/n - Salgadinho, Olinda)
Ingressos a partir de R$ 25, à venda no site Cecon Tickets
Informações: @ciadeborahcolker

