Mestra Ana Lúcia leva a tradição do coco de roda para Portugal, com shows, residência e oficina
Coquista olindense, que é Patrimônio Vivo de Pernambuco, viaja pela primeira vez ao exterior e passará por três cidades portuguesas
“É zabumba, pandeiro e ganzá/ É zabumba, pandeiro e ganzá/ É zabumba, pandeiro e ganzá/ Que o coco de Ana já vai começar”.
Diretamente do Alto do Sarapião, no Amaro Branco, em Olinda, o coco de roda da mestra Ana Lúcia sobrevoa o Oceano Atlântico, fazendo pouso em terras do além-mar. De hoje a sábado (16), a coquista mostra a potência das nossas tradições populares em Portugal, com o projeto “Todo Mundo Tem um Amor”.
Em terras lusitanas, mestra Ana Lúcia – Patrimônio Vivo de Pernambuco desde 2020 – e alguns integrantes de dois dos seus grupos, o Raízes do Coco e o Estrelinhas do Coco, participarão de algumas atividades, como shows, uma residência artística e uma oficina, em três cidades: Porto, Coimbra e Reguengos de Monsaraz.
Esta é a primeira vez que a mestra, de 81 anos, viaja ao exterior. Na mala, levou um tanto de histórias, ensinamentos e a bandeira do respeito e reconhecimento às nossas tradições, que ela carrega há mais de sete décadas.
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Coco no sangue
Ana Lúcia Nunes da Silva nasceu em 29 de março de 1944, em meio à cultura popular, tendo o coco de roda como parte essencial de sua formação como brincante e mestra. Teve como dois pilares nessa formação o pai, Severino Nunes, e dona Jovelina, referência do coco pernambucano.
O aprendizado orgânico, no dia a dia, com o coco presente no cotidiano e nas reuniões de amigos e vizinhos – ainda em uma época onde o que iluminava as rodas eram os lampiões a gás – deram régua e compasso para Ana Lúcia encarar qualquer plateia, inclusive fora do Brasil.
“Eu estou preparada porque esse dom quem me deu foi Jesus. Desde os três anos de idade que eu tô dentro da cultura”, diz a mestra, animada com a viagem. “Vou levar [a Portugal] uma pedra de ouro que papai deixou para mim, que é o coco… quando eu nasci, meus avós, meus tataravós, já eram de coco, a minha família todinha, minhas irmãs, tudo de coco. Eu tenho muita história bonita para contar”, exalta Ana Lúcia.
Orgulhosa de ser mestra de muitos alunos, Ana Lúcia conta que o coco já atravessou quatro gerações de sua família, tendo até bisnetos já dentro da roda. Mas, não só no coco. Além do Raízes do Coco, grupo criado por ela, Ana Lúcia também lidera o pastoril Estrelas de Belém e conduz o Acorda Povo, tradição junina. E para perpetuar seu conhecimento para os jovens, criou os grupos Estrelinhas do Coco e Estrelinhas de Belém.
Agenda em Portugal
Foram para Portugal com a mestra Ana Lúcia, sua filha Totoca e seus netos Cintia e Matheus, além de Simeia e Tito. A agenda deles já começa hoje, na cidade do Porto, com uma residência artística com o grupo Coco dos Quatro Cantos, formado em 2024 por integrantes de várias partes do mundo. Após o intercâmbio, todos se juntam para uma apresentação no Terra Solta, uma quinta pedagógica atrás de uma estação de trem, com palco ao ar livre.
Amanhã, mestra Ana Lúcia segue para Coimbra, para show no Salão Brazil do Jazz ao Centro Clube. Em seguida, será exibido o filme “A Rua é Nossa - Acorda Povo da Mestra Ana Lúcia” (2024), de Rui Mendonça e Zé Diniz, que registra a tradicional procissão festiva que percorre as ruas do Amaro Branco em junho.
E no sábado (16), a mestra e seu grupo ministram uma oficina de Dança e Oralidade, em Reguengos de Monsaraz, e também farão show no 25º Festival Andanças.
“Eu tô animada, sim, porque eu quero levar essa bandeira. Eu quero levar essa bandeira para lá, para Portugal saber o que é coco de roda, saber o que é a história do coco”, diz a mestra.

