Primeira menina negra de destaque da Turma da Mônica, Milena ganha livro de Eliana Alves Cruz
Infanto-juvenil 'Milena e o Pássaro Antigo' aborda temas como ancestralidade e pertencimento
Primeira personagem negra de grande projeção na galeria da Turma da Mônica, Milena foi criada em 2016 e começou a aparecer oficialmente nos quadrinhos em 2018. Nesse mesmo período, a escritora Eliana Alves Cruz iniciava sua trajetória literária, lançando dois elogiados romances que jogaram luz sobre a história negra do Brasil e suas permanências no presente: “Água de Barrela” e “O crime do Cais do Valongo”.
É difícil não comparar as trajetórias da menina dos quadrinhos e a da autora carioca, que se encontram agora em “Milena e o Pássaro Antigo”, livro infantojuvenil publicado pela Editora Malê em parceria com a MSP Estúdios (antiga Mauricio de Sousa Produções). Para Eliana, a parceria reflete um momento histórico de maior visibilidade para narrativas, personagens e escritores negros.
A Malê, por sinal, foi criada em 2015 com o foco na publicação de autores negros, e foi responsável por lançar as primeiras obras de Eliana.
— Milena nasceu de uma reivindicação das meninas que, como eu, cresceram lendo gibis e histórias para crianças sem se ver ali — diz Eliana. — A sua criação é recente, e casou com a chegada massiva de pessoas negras publicando em grandes editoras. Ela chegou afinada com determinado momento histórico do Brasil e da literatura brasileira.
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Na trama do livro, que aborda temas como ancestralidade africana, pertencimento e reconexão familiar, Milena embarca na busca por um raro Cuco-Esmeraldino — um pássaro com as cores do Brasil, mas originário da África.
Vencedora do Prêmio Jabuti de 2022, Eliana teve o desafio de escrever, pela primeira vez, dentro de um universo já consolidado e aclamado.
— Foi diferente para mim, tive que mergulhar em todos os aspectos do personagem, dos traços peculiares, e a MSP Estúdios me ajudou muito — conta a autora de “Solitária”.
Eliana trabalhou em cima das características conhecidas da personagem, uma menina de 7 anos com autoestima elevada, fã de futebol e animais, e nascida no mesmo dia da Independência de Moçambique.
Milena e sua família — Foto: Divulgação MSP EstúdiosAmiga de Mônica, Magali e Marina, Milena é filha de profissionais realizados, o pai publicitário e a mãe veterinária. A irmã mais velha, Solange, é vocalista de uma banda de garagem.
— É uma família sem as disfuncionalidades que normalmente são retratadas nas famílias negras na literatura e no audiovisual brasileiro, pelo menos até muito recentemente — lembra Eliana. — Então, a Milena é uma personagem da vitória, né? Muito linda, ela.
Quando lançou Milena, Mauricio de Sousa afirmou que houve um “trabalho maior” em sua criação, já que ela “se fazia necessária há tempos” e por isso só poderia existir com um “protagonismo acentuado”.
Direito à infância
A própria Eliana lembra da época em que o cartunista era cobrado por lideranças do movimento negro sobre a falta de representatividade em suas histórias.
— Anos atrás, Mauricio participava de um evento e foi questionado pelo movimento — recorda Eliana. — O pessoal dizia: “Vem cá, por que num país como o Brasil você tem uma trupe que não tem uma criança negra? Essas crianças também não brincam, não são lúdicas?” Mas esse é um problema com raízes muito profundas, que eu até trato nos meus livros. As crianças negras não são vistas como crianças e por isso não têm esse direito à infância. Quando veem uma criança negra adultizada, vendendo bala no sinal, as pessoas passam direto e nem se questionam.
O pássaro Cuco-Esmeraldino: cores brasileiras e origens africanas — Foto: Divulgação MSP EstúdiosJá havia outros personagens negros na turma, como Jeremias, mas não com o mesmo destaque. Na época, o próprio criador culpou pela demora “a falta de conhecimento sobre os problemas que os negros enfrentam em diversas fases de sua vida”. Para fugir dos estereótipos, o estúdio consultou diversas personalidades, como a ex-consulesa da França Alexandra Loras e a direção da Faculdade Zumbi dos Palmares.
Na divulgação de “Milena e o Pássaro Antigo”, a MSP Estúdios apresentou o projeto como um compromisso da empresa “com histórias que ampliam o imaginário das nossas infâncias”.
— Reforça o poder das narrativas em gerar pertencimento, mostrando a importância de criar histórias que reflitam a pluralidade do nosso público e inspirem novas gerações a se reconhecerem e se orgulharem de suas origens — diz Marina Sousa, diretora executiva da MSP Estúdio.

