Simone celebra sucesso de 'Então é Natal', lança feat com Carlinhos Brown e revela estar apaixonada
No topo dos mais tocados no país e completando 30 anos, hit é o mais longevo da carreira da cantora, que celebra 76 anos no Natal
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Muito obrigada. É o que Simone gostaria de dizer a Yoko Ono. Foi a viúva de John Lennon quem deu autorização para a cantora lançar o hit mais longevo de sua carreira: “Então é Natal”, gravado no disco “25 de dezembro” (1995). Assinada por Claudio Rabelo, a versão brasileira do clássico “Happy Xmas (War is over)!”, composto pelo casal em 1971 como crítica à Guerra do Vietnã, está completando 30 anos.
E a sensação de que basta chegar o fim do ano para ela ecoar por todos os lugares não é por acaso. Levantamento do Ecad (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição) confirma a percepção: a canção é a música com a palavra “Natal” no título mais executada nos últimos cinco anos no Brasil.
Em entrevista ao videocast ‘ Conversa vai, conversa vem’, no ar no Youtube do Globo e no Spotify, a artista fala sobre as alegrias — e o bullying — que essa música lhe deu. Conta ainda como é fazer aniversário junto com ninguém menos que... Jesus. A artista completa 76 anos amanhã “apaixonada e com tesão pela vida”.
Então é Natal, e o que você fez? É uma pergunta que Simone se faz todo fim de ano?
Claro, e agora estou abrindo para perguntar às pessoas nas redes, pelo site. Abrir essa possibilidade de conversar. Quero ouvir, dividir isso. Vou responder. Quero fazer uma corrente do bem. O que tenho feito nos últimos anos é plantar sementes que quero colher. A semente do amor. E tenho cantado, dividido o palco com muita gente maravilhosa de todas as idades.
"É bom saber que tenho espalhado o amor, pedir paz tranquilidade através de uma música bem emblemática. Ela foi abraçada pelo povo brasileiro"
Qual a sensação de ter uma canção que marca a vida de tantas gerações?
Boa. É bom saber que tenho espalhado o amor, pedir paz tranquilidade através de uma música bem emblemática. Ela foi abraçada pelo povo brasileiro. É a música mais tocada nesta época segundo o ECAD, topo de ranking, com maior arrecadação. O brasileiro ama Natal, e essa música também. Eu estava numa loja de discos em Nova York e vi cantores mais famosos do mundo como Frank Sinatra, Nat King Cole cantando músicas de Natal. E falei: "Vou fazer um!". E essa música é a cereja do bolo do disco. Quando entrou, todo mundo abriu os braços para recebê-la.
Yoko Ono te deu permissão? Acha que o fato de a versão brasileira ser a única que incluía as palavras Hiroshima e Nagasaki na letra ajudou na liberação?
Ela deu permissão. Nunca tinha dado permissão para ninguém gravar nada deles. Nem autorizado nenhuma versão. Foi através dos advogados. Quando viu a letra com Hiroshima e Nagasaki... Foi bom ter, e gostou. E foi uma sacada, entendeu, do Claudio Rabelo, de incluir esses lugares que tinham e sofreram muito, foram praticamente dizimados. Gostaria de encontrá-la. Diria: "Muito obrigada". Tenho gratidão não só pela música, mas pelo trabalho deles. Já a vi na rua, no Central Park, depois da morte do John Lennon. Uma vez, na época dos protestos contra a guerra do Vietnã, eu estava lá. Passava muito pela porta do Dakota.
Não é fácil ter a concorrência de ninguém menos que Jesus no aniversário. Sua relação com o Natal passou por amor e ódio? Ganhar um presente só quando criança não deve ter sido fácil..
Claro que eu me senti sem aniversárioo, mas não brigava com Jesus, o grande símbolo. Era um presente só que valia por dois, o que não é verdade. A competição maior era com o meu irmão mais novo. Ele sempre ganhava presente no meu aniversário, mas eu não ganhava presente no aniversário dele. Não foi fácil. Não é fácil uma criança assimilar que não existe mais Papai Noel, que não tem o presente no dia do seu aniversário e no dia de Natal. Mas isso foi vencido faz tempo.
Essa música te deu muita alegria, mas rendeu bullying também, né? O que sentiu? Ficou chateada?
O bullying é uma coisa de raiva, ódio. Não consigo lidar. Meme é o contrário. Mas eu sofro bullying desde que era criança lá em Salvador. Pela minha altura, era muito magra, uma tábua. Aos 16 anos, já tinha crescido tudo, 1m,80. Era "Comprida e mal acabada", "Olivia Palito", "Belém-Brasília". Quando lancei o "25 de dezembro", pegaram muito pesado. E isso com uma música que fez muito sucesso. Só de início o disco vendue 3 milhões de cópias. Pediam para não ser tocada, me botaram com máscara no rosto como se eu fosse proibida de cantar. Isso não é uma coisa boa para ninguém, parece ditadura. E era uma ditadura, fui proibida de cantar em vários lugares. Mas ninguém tinha coragem de chegar e dizer.
Qual era justificativa?
Não tinha justificativa, não tinha convite. A música foi lançada no programa do Jô, depois fiz vários programas de televisão. Levava as Canarinhas de Petrópolis, e era só cantar a música, com a mensagem que ela traz. E vinha aquela raiva,. Para que? Um efeito manada. Uma vez, estava num programa e plantaram um homem mais velho lá para dar notícias falando mal da música.
Na sua presença? Que cruel.
Foi muito cruel. Fiquei com pena daquela pessoa, que estava rendida. Eu debati, disse que era uma versão da canção de Johh Lennon, e que eles não sabiam cantar. Aí um falava uma coisa, o outro outra, uma série de agressões. Quando terminou o programa, o apresentador e a produtora me pediram desculpas e disseram que cortariam aquela parte. Não cortaram. Mas o amor vence, e o povo que dá a resposta. A música está aí há 30 anos. Em primeiro lugar nas mais tocadas.
Em 2022, quando lançou o disco "Da gente", repleto de música de amor e desejo, você me disse que estava com tesão pela vida. Isso continua?
Sim! Sem tesão não há solução. Em tudo que se faz. Tem que cantar com vontade, se não, brocha. Sou apaixonada pela vida, pela música. Sou carinhosa, romântica. Gosto de cantar o amor. E aí, você sabe do que tá falando, já viveu, está vivendo ou gostaria de viver. E tem que acreditar no que está cantando. É pele, é suor.
Seu vozeirão potente é também fruto do fato de a sétima filha e ter quase que gritar para ser ouvida?
Tinha mesmo que gritar para ser ouvida, todo mundo na minha casa fala alto. Sou a mais alta de todos os irmãos. Minhas irmãs têm 1m60cm. E eu essa coisona.
Já contou que recebeu o apelido de Cigarra em um banheiro, quando ouviu uma voz misteriosa no seu ouvido. Aí, ligou para o Milton Nascimento, que compões essa música para você. Qual a importância de Milton na sua vida?
Recebi esse nome de presente e corri para lugar para o Bituca. Ele é a pessoa mais importante musicalmente para mim. Foi fundamental na a minha vida e é reciproco. Amo meu Bituquinha. Não tinha 20 anos quando o conheci pessoalmente. Foi em 1974. Me declarei para ele. Tinha passado do meu tempo no estúdio e estava entrando no tempo dele. Estava com meu produtor, Hermínio Belo de Carvalho, e Bituca veio chegando, daquela maneira Bituca de ser. Ele me olhou, e eu disse: "Eu te amo". Ele olhou para mim de volta e disse: "Eu também" (chora). Ele é grande, enorme, mestrado, nasceu com essa bondade e com essa voz que ninguém nunca conseguiu ter. A perfeição. E continuará eternamente.
Essa história de que você gravava pelada... é lenda?
Não é lenda, não. Mas não era pelada, pelada... Não gosto de ar-condicionado. Fiz vacinas por dez anos por causa disso. Chegava num lugar, e minha garganta fechava. Eu pedia para colocarem um biombo no estúdio. Sei lá, acho que ia com a roupa errada, calça jeans, blusa apertada. Aí eu abria para ficar mais à vontade. Uma vez, Bituca me entrevistou e perguntou: "Já ficou nua gravando?". Eu disse: "Fiquei". Aí, isso ficou. Ninguém via, e eu ficava super à vontade. Não gosto de nada me apertando. Odeio sutiã, mas uso. Hoje esqueci de botar... (risos)
O primeiro amor, lutas internas e a covardia de um estupro
Acabou de lançar um feat com o Carlinhos Brown, anunciado como um dos hits para o próximo carnaval, onde se apresentarão juntos. "Primeiro amor primeiro" é lindo porque fala de um amor que pode surgir em qualquer idade e ser o primeiro...
Brown me mostrou a música e eu saí cantando a letra de primeira. É esperançosa. Não há idade para amar, para se interessar pelo outro, pela vida, pelo sexo, pelo prazer. De repente, pode encontrar o seu primeiro amor primeiro. Ele está na sua frente, não tem idade. Não tem que ser aos 12, aos 14, aos 16 anos. Pode ser aos 60, 70, 75. O amor não tem idade, sexo... O amor ninguém vê. É como uma felicidade, você não vê, você sente. Acredita ou não. Quem nem a fé.
Está apaixonada?
Eu sou apaixonada.
Mas por alguém?
Sim.
Adoro! Nunca escondeu seus afetos. Sempre foi respeitada pela sua família, sempre pôde ser quem você é dentro da na sua casa?
Sempre. Nunca fui de esconder nada. Por que esconder o amor? Se estava namorando uma menina, ela ia lá em casa. Se eles sabiam ou não...aceitavam. Se namorava um menino, ele também ia. Sempre foram generosos e compreensivos. Meu pai, como homem, tinha aquela coisa do macho. Os meninos sempre puderam tudo. E as meninas... Tive muitos embates com meu pai. Uma hora falei: "Ó, vamos sentar, isso não funciona, eu não vou nesse caminho não".
Sempre teve certeza do seu caminho...
Sempre assumi minha vida, banquei meus atos. Nunca fui uma pessoa de dar detalhes da minha amorosa pra família. Minhas irmãs mentiam, eu não, dizia: "Vou estar em tal lugar". O que percebi... minhas irmãs casaram, os maridos morreram ou elas se separaram. Ótimo! Porque saíram daquela prisão feminina.
Tudo na minha vida foi importante. Ter jogado futebol, basquete, bola de gude, empinado pipa, vivido na rua. A liberdade que tinha. Levei a minha vida de uma maneira muito boa, tenho orgulho. Botei minha cara a tapa. Tinha 14 anos e queria ser emancipada, trabalhar, ganhar a vida, ter autonomia. Não foi fácil para uma mulher...
Por mais bem resolvida que seja, também há as lutas internas...
Claro. A primeira manifestação que tive de amor feminino foi quando vi uma amiga da minha irmã. Na rua em que eu morava, as pessoas saíam para passear. Tipo tipo 18h, 19h da noite. Lembro até hoje o nome dela: Maria Helena. Meu coração disparava. Não sabia o que era aquilo. Não era negócio de sexo... Sentia um amor enorme por ela. Como sentia pela professora. A gente faz uma transferência também.... Quando você está no colégio... Onde um diretor tentou me bulinar. Queria que eu tirasse a roupa para experimentar um uniforme que havia chegado. Mas eu disse não.
Mas sofreu um abuso sexual por parte de um conhecida da sua família. Como isso te marcou? Impactou sua relação com os homens?
Não marcou porque tive a sorte... Tive poucos homens na vida. Na época em que jogava basquete, fui apaixonada por alguns e não era correspondida. Fui rejeitada pelos homens. E aí fui para o abraço de quem quis me abraçar. Mas tive a sorte de ter tido o primeiro homem com todo o consentimento, delicado... Foi Toquinho (cantor e compositor). Ele sabia de tudo, eu contei a ele.. Era apaixonada, quis ter um filho dele. A gente até já brigou em cena, no palco (risos). É uma pessoa que adoro. Ele foi muito legal. Então, os homens que tive foram femininos e não machões. Não era tipo "quero você, venha". Como tive muitas vezes... de quererem empurrar a minha cabeça...
Agora está falando sobre a violência que sofreu por parte de um amigo da sua família...
Teve um ginecologista também... Eu era virgem, e ele disse que eu tinha um hímen complacente. Eu não sabia o que era aquilo. Não sangrei na primeira vez. Devo ter sangrado com ele que, obviamente, escondeu. Então, perdi a virgindade com um escroto. Poderia ter sido uma pessoa, como várias, traumatizadas. Mas não tenho trauma com relação aos homens que tive.
Porque contou a eles o que havia sofrido e, assim, tentou driblar gatilhos...
Exato. Não tem essa coisa de "eu quero...". Primeiro, sou eu! "Você me satisfaz ou a gente se satisfaz junto". E aí eu tive a compreensão desses caras. Porque, para a mulher, nem sempre é bom. Dizem que para os homens sempre é. A não ser quando brocham.
Mas tem noção do que é um homem abusar de uma criança? O estrago que faz na vida da pessoa. Ele tentou colocar o pau dentro da boca de uma criança. Nem cabe! Isso é doença gravíssima. Mexe de uma maneira. Você fica com medo, insegura. Claro que tenho raiva dessa pessoa até hoje, jamais vou perdoar. É destruição total. Os caras que fazem isso não podem esquecer que um dia terão filho. E filhas. Esses não tem perdão. Deveriam ficar numa ala totalmente separada. Covardes!
Ser mulher num mundo violento e misógino não é fácil. Bem... Na véspera de completar 76 anos, dá um nervosinho pensar que tem mais vida para trás do que para frente?
Ah, não quero pensar isso não (risos). Desde os cinco anos de idade, eu achava que morreria cedo. Tinha essa coisa: "Vou morrer aos 25", "aos 50". E tô aí. Mas não gosto de pensar. Não tenho medo da morte, mas tenho medo de morrer, sim. Ninguém voltou para contar como é. Mas a gente tem que limpar esse mundo mesmo. E aí, é só o amor.
Ano que vem tem eleição... Qual é o recado?
Gostaria que estampássemos os nomes diabólicos desses homens terríveis que têm junção com o demo. Pra gente errar menos. Tirar esses podres poderes de quem não se importa com os mais pobres, as crianças. Não ligam para escolas, moradias, hospitais, segurança. Roubam cada vez mais. Há bons políticos, mas gente que vota contra a Humanidade, contra mulheres. Esse PL. O Congresso fazendo o que quer na calada da noite, escondido, se beneficiando. Trabalhador levando quatro horas para chegar em casa, e eles com a bunda sentada fazendo cagada, cheios de brilhantina na cabeça, levando dinheiro para os amigos. Não falta dinheiro no Brasil, falta é vergonha na cara. E a gente votar direito.

