"Superman": filme de James Gunn tem derrapadas no humor, mas acerta ao ressaltar valores do herói
Novo longa-metragem traz o ator David Corenswet como um Super-Homem positivo, cheio de compaixão e de crença na humanidade
A primeira cena de “Superman” diz muito sobre a visão que o diretor James Gunn busca construir para o personagem-título. Caído no chão, ferido e cuspindo sangue, o herói de capa vermelha se mostra menos “super” e mais “homem”, faceta explorada ao longo de todo o filme, que estreia oficialmente amanhã, mas já conta com sessões de pré-estreia espalhadas pelas salas de cinema do Brasil.
Responsável por ditar os rumos da DC no cinema, Gunn arriscou ao iniciar essa nova fase pelo personagem mais emblemático deste universo. O Super-Homem é, por si só, um forte chamariz de público. Difícil, no entanto, é conseguir sair da sombra de tantas outras representações já feitas no cinema e na TV. O que o diretor apresenta agora é uma celebração a esse legado, mas sem deixar de apontar para o futuro.
Na trama, o herói vivido por David Corenswet encara sua primeira derrota pública, após perder uma batalha para o misterioso vilão mecânico Martelo de Boravia, que detona parte da cidade de Metrópolis. O ataque seria uma resposta à intervenção do super-herói na guerra entre os fictícios países de Boravia e Jarhanpur, o que coloca parte da população contra o superpoderoso.
Leia também
• "O Último Azul": filme do pernambucano Gabriel Mascaro será exibido em festival na República Tcheca
• 'Razões Africanas', filme sobre as origens do blues, do jongo e da rumba, estreia no Recife
• Ator Terry Crews chora ao falar sobre filme "Cidade de Deus": "Mudou minha vida"
Em tempos em que personagens ambíguos chamam todas as atenções, alguém que se apresenta como o símbolo da perfeição moral poderia soar um tanto desinteressante para o público. Gunn ignora esse pressuposto, entregando um Superman cheio de bons valores e que, quando erra, o faz movido por sua forte crença na humanidade e na ideia de que veio à Terra para servir seus habitantes.
Há um tom político - ainda que intimidado pelas amarras de Hollywood - no longa. A guerra entre Boravia e Jarhanpur emula os atuais conflitos armados no Oriente Médio, sendo que o lado assumido pelo Superman é oposto ao do governo dos Estados Unidos, que passa a tratá-lo como uma ameaça. Sua origem em um planeta destruído, aliás, faz do personagem um imigrante refugiado, visto como inimigo pelos cidadãos norte-americanos a certa altura da história.
O filme explora os dilemas do protagonista ao tentar conciliar sua herança kryptoniana com sua criação humana como Clark Kent, atingindo o ápice emotivo quando ele contracena com seus pais adotivos em Smallville. Para além da defesa da justiça e da verdade, a jornada do herói tem a ver com achar seu lugar no mundo.
O elenco é, sem dúvidas, um dos grandes acertos da produção. David Corenswet consegue transitar entre duas personas completamente distintas em sua construção, apresentando completo entrosamento com Rachel Brosnahan, escolha perfeita para uma Lois Lane que brilha para além de um simples par romântico. Nicholas Hoult não fica atrás, entregando um Lex Luthor à altura de um dos maiores vilões dos quadrinhos.
Ao imprimir sua marca autoral no longa, Gunn traz certa irreverência para o universo do Superman, algo que Zack Snyder passou longe em “O Homem de Aço” (2013). Pena que nem sempre as piadas funcionem bem e que, em certos momentos, o diretor acabe perdendo a dose nos alívios cômicos, especialmente na onipresença do cachorro Krypto, que rouba o protagonismo e várias cenas.
Apesar das derrapadas, “Superman” cumpre bem o desafio de dar o pontapé inicial ao recomeço de um universo com tantos fãs, introduzindo novas versões de personagens já conhecidos pelo grande público. Ao vestir novamente a cueca vermelha por cima da calça, aponta que o caminho pode estar em olhar para o passado e recuperar uma pureza há tempos perdida.

