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FUTEBOL

Kiricocho! Grito de azar para adversários nasceu com Estudiantes, rival do Flamengo na Libertadores

Campeão argentino em 1982, time de La Plata teria abraçado a mística de torcedor folclórico antes do termo ganhar o mundo do futebol

O Estudiantes campeão de 1982, time que teria contado com a mística de Kiricocho O Estudiantes campeão de 1982, time que teria contado com a mística de Kiricocho  - Foto: Estudiantes de La Plata/Site oficial

Se o Flamengo tiver algum pênalti ou lance perigoso ao seu favor hoje à noite, quando estiver enfrentando o Estudiantes no Maracanã, pelas quartas de final da Libertadores, certamente ouvirá gritos de “kiricocho!” do banco adversário.

O termo, uma das lendas urbanas mais populares do futebol mundial, traria azar ao adversário, especialmente em penalidades. E foi justamente em La Plata, com o Estudiantes, que essa história surgiu.

Reza a lenda que Kiricocho (ou Quiricocho, há dúvidas sobre a grafia) era o apelido de um torcedor azarado do Estudiantes, que frequentava os treinos da equipe em 1982. A lenda conta que, sempre que ele aparecia, algo de ruim acontecia aos atletas daquele elenco.

Naquela época, o lendário treinador Carlos Bilardo fazia a sua terceira de quatro passagens pelo comando do time de La Plata, que não era campeão nacional há 15 anos. Ainda de acordo com a lenda, Bilardo e sua comissão técnica resolveram abraçar o azar do torcedor e combinaram que ele recebesse os elencos dos adversários que fossem enfrentar a equipe com tapinhas de suposto incentivo nas costas.

 

Numa das grandes histórias de místicas do futebol, as coisas funcionaram: o Estudiantes foi campeão argentino naquele ano com apenas uma derrota em casa, para o Boca Juniors.

 

Estudiantes foi campeão argentino em 1982 Estudiantes foi campeão argentino em 1982 — Foto: Estudiantes de La Plata/Site oficial

Bilardo deixou La Plata em 1983 para comandar a seleção argentina. Ele se eternizaria como o técnico do título de 1986 e levaria a “mística” adiante, apesar de perder o contato com o tal torcedor azarado. Quando treinou o Sevilla, em 1992, descobriu que o grito de “kiricocho!” havia chegado à Espanha, levado por compatriotas como Diego Maradona e Diego Simeone (hoje técnico do Atlético de Madrid).

“Era um bom rapaz, mas não o vi mais. Na última vez que comandei o Estudiantes (em 2003), perguntei por ele e ninguém sabia de nada”, disse o treinador em uma entrevista antiga.

 

O técnico Carlos Bilardo — Foto: Custódio Coimbra

Termo se espalhou pelo mundo
A lenda ganhou os grandes palcos europeus: em 2021, virou tema de briga entre o atacante Haaland e o goleiro Bono em um Sevilla x Borussia Dortmund. No mesmo ano, o zagueiro italiano Chiellini soltou o grito no pênalti decisivo, perdido por Saka, na final da Eurocopa, contra a Inglaterra, que terminou com título dos italianos.

Em 2023, o canal argentino TyC Sports foi a El Mondongo, bairro de La Plata, para tentar descobrir quem foi Kiricocho e agregou novas informações à lenda. Segundo a reportagem, ele se chamava Juan Carlos Revagliatti e atuava ao lado do pai como “anotador” do mercado ilegal de apostas da época. O significado do apelido é desconhecido.

Ainda segundo a TyC, Revagliatti tinha uma leve deficiência cognitiva e foi adotado pela comunidade local, principalmente pelos envolvidos com o futebol. A mística do azar, nessa nova versão, viria da dificuldade em acertar apostas com Kiricocho as anotando. Revagliatti viveu uma vida pessoal solitária, não teve filhos e morreu em 2019, aos 70 anos. Mas segue eternizado no mundo da superstição, tão importante no futebol.

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