Sex, 05 de Dezembro

Logo Folha de Pernambuco
JARDIM BRASIL

Olinda: jovem negro prova ser dono de bicicleta com nota fiscal após acusação de furto em mercado

Ele precisou mostrar a nota fiscal a policiais para provar que era o dono da bicicleta

Caso aconteceu em supermercado de Olinda, no bairro de Jardim BrasilCaso aconteceu em supermercado de Olinda, no bairro de Jardim Brasil - Foto: Cortesia

Um jovem negro de 20 anos foi acusado pelo gerente de um supermercado em Olinda, na Região Metropolitana do Recife (RMR), de ter furtado a própria bicicleta. Ele precisou mostrar a nota fiscal para provar que era o dono. 

O episódio aconteceu no final da tarde do último sábado (23), na avenida Antônio da Costa Azevedo, no bairro de Jardim Brasil.

Em fala à Folha de Pernambuco, o jovem, que preferiu manter anonimato, disse que costuma andar com a nota fiscal da bicicleta no celular justamente para evitar situações do tipo.

O gerente chegou a fazer menção de estar armado, segundo a vítima, e ordenou que ele voltasse ao mercado, o que chamou atenção de muitas pessoas no entorno.

"Eu fui sacar o dinheiro no mercado, como sempre faço. Eu ia comprar fralda. Olhei para trás, ele estava com as mãos nas costas, simulando que estava armado. Eu olhei para ele e ele disse 'bora, boy' apontando para mim. 'A bicicleta'. E eu disse: 'a bicicleta é minha'. Voltei com medo, porque já tinha um bocado de gente olhando, fiquei com medo de apanhar", disse. 

Na hora, segundo um parente da vítima, estavam passando dois policiais em treinamento.

"O gerente falou aos policiais que ele tinha roubado a bike", disse o familiar, ressaltando ainda que o jovem não tem antecedentes criminais.

O dono da bicicleta também afirmou que o gerente citou um suposto cliente de quem a bicicleta teria sido furtada, mas, em nenhum momento, mostrou quem seria essa pessoa.

"Já tinha dito para ele que eu estava com o documento da bicicleta. Ele nem quis olhar nem nada, chegou dizendo que a vítima se confundiu, mas, cadê a vítima? Não tem vítima nenhuma. Ele insinuou que eu estava roubando", acrescentou o jovem, dizendo ainda que está muito abalado por conta do ocorrido. 

"Deu vontade de chorar na hora, mas peguei o choro e voltei para casa porque com 20 anos de idade nunca aconteceu isso", lamentou a vítima, acrescentando que espera por justiça após o caso.

"Eu queria que ele pagasse por alguma coisa, porque foi comigo, mas pode ser com qualquer outra pessoa. E se a outra pessoa que ele fizer isso apanhar, perder a vida? Ele tem que se explicar, não adianta ele mentir porque tem câmera no mercado", finalizou o jovem, que está desempregado, tem um filho de 1 ano e 9 meses e que acredita ter sido vítima de racismo. 

Por fim, todos foram liberados. Os familiares da vítima acionaram advogado particular para prosseguir com os trâmites.

"É um menino direito, de família, tem ensino médio completo. Depois de uns 20 minutos constataram que a bicicleta realmente era dele. O gerente disse que foi um erro", lamentou o parente.

O que diz a Polícia Civil
A Polícia Civil registrou a ocorrência na 7ª Delegacia Seccional de Olinda como calúnia e instaurou inquérito para apurar o caso.

A tipificação do crime, segundo a corporação, ocorre após a conclusão desse inquérito.

"Mais informações poderão ser repassadas após a completa elucidação dos fatos", afirmou a corporação.

A reportagem acessou o Boletim de Ocorrência. O documento afirma que, "após averiguação minuciosa", se constatou que a bicicleta era de "propriedade legítima" do até então acusado.

"O gerente do estabelecimento presente no local admitiu que se equivocou na identificação e reconheceu o engano, afirmando não ter ocorrido crime", diz trecho do BO.

A Folha de Pernambuco também entrou em contato com a Polícia Militar e aguarda retorno.

O que diz o supermercado
A reportagem acionou a defesa do supermercado. Por telefone, um funcionário do estabelecimento negou acusações de racismo e que aguardam a resolução judicial. 

"O que foi passado para gente aqui é que já foi lavrada lá na delegacia a ocorrência, e ficou para responder em juízo agora. Não teve nada desse negócio de história de racismo, isso é mentira", afirmou. O gerente não estava disponível no momento do contato.

Veja também

Newsletter