Oruam ataca carro da polícia e ameaça delegado que cumpria mandado contra adolescente infrator
O delegado Moyses Santana aguardava na porta da casa do rapper para cumprir um mando de busca e apreensão contra um adolescente
Novas imagens de câmeras de segurança instaladas na rua onde mora o cantor Oruam, na Zona Oeste do Rio, registraram o momento em que o rapper ataca um carro descaracterizado da Polícia Civil, no dia 21 de julho.
Nas gravações, ele aparece reunindo pedras, fazendo ameaças e golpeando ao menos quatro vezes o vidro do veículo. Dentro do carro estavam o delegado Moyses Santana, da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE), e outro policial, que aguardavam para cumprir um mandado de busca e apreensão contra um adolescente infrator localizado na casa do artista.
"MC não é bandido, sou artista!".
— Rubinho Nunes (@RubinhoNunes) July 29, 2025
Corta pro Oruam batendo no vidro do carro de um DELEGADO! pic.twitter.com/ZlT4f2OekZ
As imagens mostram o momento em que amigos de Oruam são abordados e revistados por policiais, por volta das 23h20, em uma calçada em frente à casa do rapper. Pouco depois, ao tentarem deixar o local, com o adolescente no carro, o delegado Moisés Santana, da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE), e outro agente percebem que estão sendo apedrejados por Oruam e outras pessoas, que estavam na sacada da residência. Neste momento, o garoto, conhecido como Menor Piu, foge do carro.
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A cena, registrada de outro ângulo por um vídeo gravado por um dos presentes, mostra o grupo arremessando pedras na direção do carro descaracterizado. Em resposta ao ataque, um dos policiais saca a pistola e aponta na direção dos agressores, numa tentativa de conter a investida.
"Vai matar nós? Dá tiro aí", diz um dos amigos de Oruam.
Mais uma vez, o delegado e o policial entram no carro e tentam deixar o local, mas são novamente impedidos por uma nova sequência de pedradas. Em seguida, acabam cercados por Oruam e um grupo numeroso. Nas imagens, o rapper aparece acompanhado de pelo menos 17 pessoas, muitas com os cabelos tingidos de vermelho.
Oruam tira o casaco, fica sem camisa e avança em direção ao carro da Polícia Civil. Dois seguranças do cantor tentam conter a aproximação, segurando o artista e puxando-o pelo braço em diferentes momentos, mas não conseguem detê-lo. O rapper então se aproxima da janela do motorista e desfere vários golpes contra o vidro da viatura, além de ameaças de morte aos agentes.
No dia seguinte, Oruam disse, em nota, que se sentiu vítima de abuso de autoridade e que só atirou pedras na polícia depois que foi ameaçado com armas de fogo, incluindo fuzis. O músico questionou também o fato de a polícia ter entrado na casa dele por volta da meia-noite, fora dos horários de cumprimento de mandados judiciais, entre às 5 e 21h. Ainda acusou a polícia de preconceituosa. Segundo Oruam, os policiais também teriam rasgado e destruído pertences dele e da noiva.
''Apesar da invasão, nenhuma objeção ou suspeita foi encontrada, pois não havia motivo algum para tal ação. Além disso, durante a abordagem, meu produtor, que estava comigo, foi algemado de maneira arbitrária e sem justificativa plausível. Essa ação violenta e desproporcional, além de humilhante, gerou grande sofrimento emocional e físico para todos nós presentes'', escreveu o músico.
O Globo tentou contato com a defesa do cantor Oruam, que ainda não se manifestou sobre o caso.
A ação que terminou com a prisão do rapper Oruam teve início na noite de 21 de julho, quando policiais da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE) foram até a casa do cantor, no Joá, Zona Oeste do Rio, para cumprir um mandado de busca e apreensão contra um adolescente infrator conhecido como Menor Piu. O jovem, que integrava a chamada “Equipe do Ódio”, ligada ao Comando Vermelho, havia deixado de cumprir medidas socioeducativas em regime de semiliberdade. Ao ser colocado em uma das viaturas, o adolescente fugiu após o carro ser apedrejado por Oruam e outros presentes no imóvel.
Na confusão, o adolescente escapou pela mata com amigos. Um dos envolvidos, Paulo Ricardo de Paula Silva de Moraes, o Boca Rica, foi preso em flagrante. Os vídeos gravados pelos próprios jovens foram usados pela DRE para embasar o inquérito que levou à expedição do mandado de prisão contra Oruam, que se entregou na quarta-feira e atualmente está detido em Bangu 8, na Zona Oeste. Se condenado, Oruam pode responder por ameaça, dano ao patrimônio público, desacato, resistência e associação ao tráfico — com penas que, somadas, podem ultrapassar 18 anos de prisão.
Menor Piu também se entregou, no dia 24, e voltou a cumprir medidas socioeducativas em regime de semiliberdade, conforme decisão da Justiça. Nas redes sociais, ele afirmou ter deixado o crime e estar investindo na carreira artística.
Na Guia de Execução de Medida, a juíza responsável justificou a decisão afirmando que não havia, em nome do adolescente, ordem para que ele ficasse internado em unidades socioeducativas:
"Inicialmente, cumpre assinalar que, após consulta aos sistemas, não foi localizada qualquer ordem de internação provisória vigente, tampouco outro mandado de busca e apreensão em desfavor do adolescente. Considerando o cumprimento do mandado, constata-se o interesse na continuidade do cumprimento da medida de semiliberdade, visto que não há elementos nos autos que demonstram a reintegração social do reeducando".

