Sobrevida para os papagaios-chauás
A Mata da Sálvia, localizada na Usina Utinga, em Alagoas, será palco da reintegração na natureza do papagaio-chauá
Uma sobrevida à espécie. A Mata da Sálvia, localizada na Usina Utinga, que fica no município de Rio Largo, em Alagoas, será palco da reintegração na natureza do papagaio-chauá (Amazona rhodocorytha). Em junho de 2022, foram levados à região 61 chauás resgatados de cativeiros ilegais nos estados de Santa Catarina, Rio de Janeiro, Bahia, e na cidade de Maragogi (AL).
Para serem reintroduzidos ao hábitat natural, os animais passaram por um processo de adaptação no parque zoobotânico do Centro de Educação Ambiental Pedro Nardelli, localizado na Usina. O trabalho foi desenvolvido por meio de uma iniciativa coordenada por pesquisadores de universidades e por empresas do setor sucroenergético com apoio do Ministério Público, ICMBio e Polícia Militar.
De acordo com Luís Fábio Silveira, curador da seção de aves do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (USP), o chauá é um papagaio que existe somente na Mata Atlântica do Brasil, do Rio de Janeiro até o Sul da Bahia. Além disso, uma população separada é encontrada no Norte de Sergipe e em Alagoas. Porém, a espécie está praticamente extinta no estado alagoano.
Em 2019, antes da pandemia da Covid-19, apenas quatro chauás eram vistos no Estado. O número baixo de indivíduos fez com que a equipe começasse o projeto de reintrodução da espécie na localidade.
“O projeto gira em torno, principalmente, de recuperar aves que são apreendidas do tráfico ilegal. As aves que a gente vai soltar são as que estavam em cativeiros ilegais, ou sofrendo maus-tratos pelo Brasil. Nós tivemos todo apoio do Ibama e das policiais ambientais que recolheram esses bichos, e a partir daí trouxemos os animais para fazer a reabilitação na área da Usina Utinga", afirma.
Na fase final do processo de reabilitação, em que os papagaios já estão voando, vocalizando normalmente e com uma boa alimentação, acontecerá, com autorização do ICMBio, a primeira reintrodução na história da espécie.
“A gente escolheu a Mata da Sálvia, que é uma mata bem importante aqui e está bem próximo dos nossos viveiros, para fazer a reintrodução do papagaio. Dentre os vários indivíduos, a gente vai soltar casais. Nós estamos pensando em soltar 18 indivíduos que já separamos. A gente vai fazer um teste agora com um dos casais”, pontua Luís Fábio.
Por conta da caça e do desmatamento, a espécie desapareceu do Estado de Alagoas. O animal tem um papel ecológico importante na dispersão e no controle de produção de sementes e de frutos de muitas árvores, além de ser indicador de florestas bem conservadas. “A gente soltando na Mata da Sálvia estamos sinalizando que essa é uma mata com condições de abrigar esse experimento de começar a recompor a população da espécie aqui no Estado”, comenta.
Chamada de "soltura branda" ou "soltura suave", a reintrodução será feita a partir da soltura, inicialmente, de um indivíduo do casal. O outro permanece preso até o animal que estiver solto começar a circular um pouco mais pela mata. Quando o indivíduo liberto estiver um pouco mais habituado e entendendo mais do ambiente, os dois são soltos.
Educação ambiental
De acordo com Luís Fábio, um trabalho de educação ambiental com as comunidades do entorno está sendo realizado para que as pessoas sejam informadas, entendam a importância do projeto e sejam adequadamente sensibilizadas com relação à questão ambiental. "Os papagaios estão sendo submetidos agora também a exames sanitários para ver se não vão levar nenhuma doença para a vida silvestre. Os indivíduos aprovados nos exames sanitários estarão aptos a serem reintroduzidos. A gente acha que em dois ou três meses mais ou menos", complementa.
Como um dos passos iniciais e fundamentais para a reintrodução dos chauás, a Utinga iniciou o programa de sensibilização ambiental, que desempenha um papel importante em projetos de conservação.
“Em programas de reintrodução de espécies ameaçadas, a conscientização e o engajamento da população local são fatores determinantes para alcançar resultados positivos e duradouros. No caso do papagaio-chauá, criar ações para desestimular práticas como a caça e o comércio ilegal de aves e incentivar uma mudança no pensamento e no comportamento das pessoas em relação à fauna silvestre é essencial para o restabelecimento da espécie na região”, destaca Raquel Monfrinato, acadêmica do IB - USP e uma das responsáveis pelo programa de sensibilização ambiental.
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Conservação das espécies
Comprometido com as causas ligadas ao meio ambiente e com a conservação das espécies, o Grupo EQM, presidido por Eduardo de Queiroz Monteiro, do qual faz parte a Folha de Pernambuco, tem mais de 11 mil hectares de Atlântica preservada em suas duas usinas: Cucaú, em Pernambuco, e Utinga, em Alagoas.
A Utinga possui a Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Mata do Cedro (978,76 hectares) e a Cucaú criou, em julho, a RPPN Mata do Jaguarão (900,15 hectares). Com a criação da RPPN Mata da Sálvia (623,59 hectares), na Usina Utinga, o Grupo reafirma seu compromisso com a conservação da biodiversidade.
De acordo com a diretora de marketing do Grupo EQM, Joanna Costa, todo o trabalho desenvolvido pela empresa envolve a preservação da flora e da fauna.
“Os papagaios, assim como o mutum, estarem sendo reinseridos no seu hábitat natural e a gente contribuindo para o funcionamento saudável de um ecossistema tão importante para o funcionamento do planeta é uma honra muito grande e compromisso que nós realmente temos com as causas sustentáveis e de meio ambiente. Sabemos que, por sermos um grupo relativamente grande na parte de terras, não podemos deixar de lado a sustentabilidade", pontua.
A assessora de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Grupo EQM, Sônia Roda, destaca que ao implementar políticas internas voltadas para a sustentabilidade, o Grupo procura estabelecer um modelo de produção que harmonize o desenvolvimento econômico com a preservação ambiental.
“O Grupo EQM reconhece plenamente que a produção de açúcar e etanol desempenha um papel fundamental na economia local e nacional, porém, é crucial assegurar que essas atividades sejam conduzidas de maneira responsável e ecologicamente correta. A preservação dos poucos fragmentos de florestas significativos para a conservação da biodiversidade na Floresta Atlântica nordestina depende, em grande parte, do engajamento dos principais empresários do setor sucroalcooleiro. O Grupo EQM demonstra e inspira que isso é possível”.
Segundo Marcela Daher, analista ambiental da Usina Utinga, a proteção de áreas naturais como a Mata da Sálvia é primordial para garantir a continuidade dos serviços ecossistêmicos essenciais de uma uma floresta, como a regulação do clima, preservação das mais de 20 nascentes, a polinização e a disponibilidade de recursos naturais. Ela afirma que esses elementos são indispensáveis para a sobrevivência de todas as formas de vida, incluindo a nossa.
“É possível conciliar o desenvolvimento humano com a preservação da natureza. A iniciativa demonstra uma visão de longo prazo, que vai além dos benefícios econômicos imediatos, considerando o equilíbrio ecológico, a conservação do patrimônio natural e a conservação da biodiversidade”.
O superintendente da Usina Utinga, Tony Ramos Paz, reitera que a gestão ambiental da Usina mostra a importância da governança nas tomadas de decisão, garantindo que os aspectos ambientais sejam criteriosamente avaliados e considerados.
“Essa abordagem visa gerar um impacto ambiental positivo e sustentável em todas as operações da empresa. A preservação ambiental como um propósito corporativo está enraizado na cultura organizacional do Grupo EQM. Esse compromisso com a conservação ambiental não apenas reforça a responsabilidade social do Grupo, mas também a coloca como uma referência no setor sucroalcooleiro”.




