Sáb, 06 de Dezembro

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Congresso Nacional

Derrota do governo em CPI do INSS expõe falhas de Gleisi na articulação, e líderes criticam

Manobra que alçou oposição ao comando da comissão acirrou tensões entre o Planalto e a base

Ministra-chefe da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi HoffmannMinistra-chefe da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann - Foto: Gil Ferreira/SRI

A derrota do governo ao não conseguir emplacar o comando da CPI do INSS expôs falhas na articulação política de Lula no Congresso e provocou uma troca de acusações entre deputados da base e a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann,

A avaliação de líderes partidários é que ela errou por não ter procurado os parlamentares para garantir os votos na comissão e que a crise poderia ter sido facilmente evitada se houvesse um contato mínimo entre o Palácio do Planalto e parlamentares sobre o assunto.

Integrantes de partidos aliados do governo dizem que Gleisi não se preocupou em pedir apoio para assegurar que a presidência e a relatoria da comissão fossem de parlamentares aliados e que o governo sequer tinha conhecimento da ordem de prioridade dos partidos nas suplências caso membros titulares da CPI faltassem. A comissão vai apurar descontos indevidos em aposentadorias do INSS e tem potencial para desgastar o governo.

O Planalto não conseguiu confirmar um acordo com a cúpula do Congresso para os dois postos mais importantes, e o senador Carlos Viana (Podemos-MG) e o deputado Alfredo Gaspar (União-AL) foram eleitos presidente e relator. Os dois são de oposição. Pelo que estava firmado com os presidentes do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), e da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), o presidente e o relator seriam o senador Omar Aziz (PSD-BA) e o deputado Ricardo Ayres (Republicanos-TO).

Logo após a derrota na instalação da CPI nesta quarta-feira (20), Gleisi chamou parlamentares da base para conversar sobre o assunto. O líder do MDB na Câmara, Isnaldo Bulhões (AL), participou do encontro com a ministra e disse que o erro partiu da pasta dela e da articulação política do governo de uma forma geral.

— Eu disse a ela que não adianta tratar de prejudicar A, B ou C ou buscar culpados. Agora é consolidar estratégia para frente. Nem precisava de reunião, bastava um telefonema. Não houve nada, estava tudo tranquilo. Eu mesmo, quando tem votação, no mínimo ligo de um por um pedindo voto. Um negócio sério desse, a turma tem um mapa ali…— disse Isnaldo.

Entre os parlamentares que faltaram e deram margem para a oposição ter maioria para eleger o comando da comissão estavam membros do MDB, como o deputado Rafael Britto (AL) e o senador Renan Calheiros. O líder do MDB, no entanto, disse que a ausência deles poderia ter sido resolvida se o governo se programasse.

— O deputado Rafael Britto foi indicado para atender ao governo e a mim também. O Rafael estava no exterior, e eles (governo) nem sabiam a ordem dos suplentes como era. Eu vou cuidar de voto de comissão? É a articulação do governo no Congresso Nacional.

Da mesma forma, o deputado Elmar Nascimento (União-BA), que participou do acordo para a escolha de Alfredo Gaspar para a relatoria, disse que faltou experiência para lidar com a situação:

– Ela (Gleisi) tem um ponto positivo porque cumpre o que acerta, o problema é que ela foi imprevidente. Tinha gente que defendia que o Isnaldo fosse ministro das Relações Institucionais. A obrigação de quem está ali (na SRI) era prever para evitar. Com um cara experiente na SRI (não aconteceria). Quem tem que providenciar votos é o governo. (Gleisi) não chamou ninguém, chamou agora depois do caldo derramado. Eu conheço o Alfredo Gaspar, e essa CPI vai ser pior que a dos Correios para o governo. Eles perderam porque foram incompetentes.

Relator da CPI foi indicado pelo Centrão
Inicialmente, o desejo do PL era ter o deputado Marcel Van Hattem (Novo-RS) na relatoria da CPI, mas integrantes do União Brasil e do PP discordaram. A avaliação foi que essa escolha seria ruim e representaria uma desmoralização para o presidente da Câmara, já que o deputado do Novo participou do motim que ocupou a Mesa Diretora da Casa e se recusou a desocupar a cadeira de Motta para ele retomar os trabalhos do plenário.

A negociação foi encabeçada pelo líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (RJ), e pelo líder da oposição no Senado, Rogério Marinho (PL-RN). Também participaram do acordo os presidentes do União Brasil, Antônio Rueda, e do PP, Ciro Nogueira, além do vice-presidente do União, ACM Neto, do líder do União na Câmara, Pedro Lucas Fernandes, e do deputado Elmar Nascimento.

A derrota do governo se soma a uma série de outras crises envolvendo a articulação política. Desde quando a ministra assumiu o cargo, em março, ela passou a ser elogiada por ser uma cumpridora de acordos. No entanto, na avaliação de parlamentares de partidos do Centrão falta um diálogo mais próximo com os partidos da base que não são da esquerda.

— Esse governo chega a dar dó. A articulação deles é zero — declarou o presidente do Solidariedade, deputado Paulinho da Força (SP).

Procurada, Gleisi culpou a base do governo no Congresso pela falha no caso da CPI:

— Apesar do resultado que a oposição conseguiu hoje, por erros na mobilização de nossa base, vamos continuar trabalhando, corrigindo os erros, para que a CPI não seja instrumentalizada para atender a interesses políticos. É importante garantir que os trabalhos não interfiram nas investigações em curso e nem no processo de ressarcimento dos aposentados, o que esse governo já está fazendo.

Além da crise envolvendo a CPI, são apontadas como falhas da articulação a derrubada do decreto do IOF, o sucesso da oposição em conseguir as assinaturas necessárias para pedir o avanço do projeto que anistia os envolvidos no 8 de Janeiro, a criação da federação PP-União Brasil, que deve provocar um desembarque dos partidos no governo e a aprovação de um projeto que suspendeu parte da ação penal contra o deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ).

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