"No Céu da Pátria Nesse Instante": documentário de Sandra Kogut leva o 8 de janeiro ao cinema
Filme, que estreia nesta quinta-feira (14), retrata as tensões políticas e sociais do período eleitoral de 2022
Chega nesta quinta-feira (14) às salas de cinema do Brasil o mais novo filme de Sandra Kogut. Em “No Céu da Pátria Nesse Instante”, a diretora premiada por trabalhos como “Campo Grande” (2015) e “Três Verões” (2019), documenta o tensionamento político e social que culminou com as invasões ao Congresso Nacional, ao Palácio do Planalto e ao STF, em Brasília, no fatídico 8 de janeiro de 2023.
O longa-metragem foi rodado ao longo de 2022, registrando as turbulências de um período eleitoral marcado por polarização, ameaças à democracia e desinformação. Em entrevista à Folha de Pernambuco, a cineasta falou da certeza de que estava diante de um momento importante e que precisava ser filmado, mesmo sem saber o que poderia acontecer.
“Ao mesmo tempo que a gente não podia prever o futuro, não lembrava o que havia acontecido, porque as notícias eram tão absurdas que o escândalo do dia ofuscava o da semana anterior. Isso também me deu muita vontade de fazer um filme, para criar uma linha do tempo dos acontecimentos”, comentou Sandra.
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A proposta lançada pela diretora era desafiadora: acompanhar a eleição em curso através de pessoas de diferentes regiões e espectros políticos. A produção precisou lançar mão de recursos como videoconferência para coletar em tempo real os depoimentos de personagens espalhados por cidades como Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília, Curitiba, Belém e Anajás, na Ilha de Marajó.
“Foi uma loucura. Em muitos momentos eu me perguntava: ‘Por que fui inventar isso?’. Muita coisa foi ajudando o filme a ser possível, mas acho que o principal foi ter construído uma relação de confiança a longo prazo com os personagens”, contou.
Com equipes de filmagem em cada localidade, a produção formou uma rede colaborativa que possibilitou, por exemplo, a obtenção de imagens exclusivas dos atos golpistas na Praça dos Três Poderes. Os ataques pegaram de surpresa a diretora, que naquela altura - com o presidente Lula (PT) devidamente empossado - acreditava já ter finalizado toda a captação de material para o documentário. “O 8 de janeiro botou em som e imagem um medo que a gente tinha vivido aquele tempo todo. De repente, aquilo se materializou”, relembrou.
Sandra optou por colocar em foco cidadãos comuns, que normalmente estão nos bastidores: eleitores anônimos, voluntários e trabalhadores do processo eleitoral. Em meio às tensões ideológicas e partidaristas, a cineasta dá espaço para ambos os lados se expressarem, sem julgamentos, guardando sua própria manifestação apenas para uma das cenas finais.
“Não queria um filme em que eu ficasse o tempo inteiro brigando com os personagens. Seria até um certo abuso de poder meu como diretora. Quando faço um documentário, tento enxergar a complexidade daquelas pessoas. O tempo todo eu pensava que o caminho para tentar algum diálogo com o outro lado era esse”, destacou.
Coincidentemente, “No Céu da Pátria Nesse Instante” estreia um mês após o lançamento de “Apocalipse nos Trópicos”. O documentário de Petra Costa para a Netflix também discute a política brasileira, mas a partir de entrevistas com figuras midiáticas centrais para a ascensão da extrema-direita no País, como o pastor Silas Malafaia, o que torna os dois longas, de certa forma, complementares.
“Eu digo que são filmes primos. Eles são bem diferentes e, ao mesmo tempo, conversam. Inclusive, eu e a Petra nos encontramos nos festivais. Acho muito oportuno o momento em que os dois trabalhos estão sendo lançados, já que essas questões todas estão ainda muito agudas e presentes”, defende.

